Após um ano de muitas instabilidades climáticas, o setor do trigo
de São Paulo registrou uma quebra expressiva da safra 18/19. Essa foi a
conclusão da reunião da Câmara Setorial do Trigo, realizada na tarde de 08 de
novembro, na sede do Sindicato da Indústria do Trigo no Estado de São Paulo
(Sindustrigo), em São Paulo (SP), que reuniu representantes de diferentes elos
da cadeia do trigo.
Segundo o presidente da Câmara Setorial do Trigo, Maurício
Ghiraldelli, o estado está em fase de finalização da colheita. De acordo com o
reporte das cooperativas que estiveram no encontro, espera-se colher entre 180
e 190 mil toneladas de trigo em São Paulo, número que indica uma quebra significativa
da produção, por conta da seca enfrentada no plantio e as chuvas registradas
durante o período de colheita. “Algumas cooperativas relataram perda de 25% em
produtividade”, afirma.
“A perspectiva do setor no início do ano era muito positiva, pois
era esperada uma safra recorde, estimada em mais de 300 mil toneladas. Infelizmente
o clima é um fator com alto impacto na cultura e, como podemos perceber, foi determinante
para a queda dos números”, acrescenta Ghiraldelli.
Mesmo frente a um cenário de perdas, os participantes da Câmara se
mostraram otimistas para a próxima safra. “Acreditamos que o estado não perderá
área de trigo. Em minha opinião o volume que esperávamos no início do ano ainda
é factível para a próxima safra”, enfatiza o presidente da Câmara.
“Quando analisamos o cenário mundial podemos dizer que temos uma
tendência de alta no preço do trigo para 2019. A Rússia chega com pouca safra,
seguida da Argentina que já exportou muito do volume que vai produzir. Além
disso, temos a quebra significativa do trigo brasileiro, principalmente nos
estados do Paraná e Rio Grande do Sul, que ainda não foram contabilizados”,
pontua.
Novos
desafios
O setor se vê frente a uma mudança que deverá impactar de forma
significativa a produção de trigo no Brasil. A partir de 1º de janeiro entra em
vigor a legislação da Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa), que regulamenta o nível de micotoxina
encontrada no grão a ser moído.
No trigo, a principal forma de contaminação é a micotoxina
Desoxinivalenol (DON), associada a incidência de fungos do complexo Fusarium
graminearum, causadores da doença conhecida por giberela ou fusariose,
frequente nas lavouras de cereais de inverno no Sul do Brasil em anos de
primavera chuvosa.
Segundo Ghiraldelli, esse é o novo “calcanhar de Aquiles” do
setor. “O trigo gaúcho está com um problema sério com os níveis de DON e já
sabemos que esses índices não atendem a legislação. Com isso o estado deverá
exportar mais trigo, o que elevará o volume comprado por eles na Argentina”,
destaca. O desoxinivalenol, conhecido como DON é uma micotoxina que pertence à
família dos tricotecenos, e pode ser produzido por diferentes gêneros de fungos
e bolores.
Frente a este cenário, a expectativa é de que os preços do trigo
subam a partir de janeiro. “Essa perspectiva de cenário é muito positiva, pois
com os preços elevados os produtores se animam para o plantio da nova safra em
São Paulo, pois além de preços atrativos eles podem contar com a certeza da
liquidez, pelos moinhos paulistas”, finaliza Maurício.