Notícias do Sindustrigo

Margens de lucro dos moinhos paulistas tendem a cair

O faturamento dos moinhos paulistas de trigo deverá crescer em 2019, sustentado pelo  aumento dos preços do cereal e seus derivados. Mas as margens de lucro das empresas tendem a diminuir pelo terceiro ano consecutivo, afirmou Valnei Vargas Origuela, presidente do Sindicato da Indústria do Trigo do Estado de São Paulo (Sindustrigo-SP), ao Valor. Ele assumiu o cargo em maio, com mandato até 2022.


Segundo Origuela, o segmento estava animado no fim do ano passado e tinha expectativa de resultados mais positivos em 2019. Mas o comportamento da demanda no primeiro semestre frustrou as expectativas. "Todos achávamos que, com as eleições, a economia brasileira mostraria sinais de retomada.


Mas não é o que está acontecendo e o consumo só vem caindo", disse. Com a demanda desaquecida, os moinhos não conseguem repassar o aumento dos custos de produção. Conforme Origuela, apenas em 2018, o preço do trigo - que representa cerca de 70% do custo de produção das farinhas - subiu 40%, em média, com picos de 60%. "Os moinhos não conseguiram repassar nem 20% [desse aumento]".


Como exemplo, Origuela cita os números do Moinho Anaconda, um dos maiores do país, do qual é diretor-presidente. "Tivemos um crescimento no faturamento de 9,7% no ano passado [ante 2017], que chegou a R$ 624,41 milhões. Mas o lucro líquido da empresa caiu 12,3, para R$ 98,81 milhões, e o Ebitda recuou 12,2%, para R$ 40,38 milhões". Segundo ele, mais ou menos a mesma coisa aconteceu com os outros nove moinhos representados pelo Sindustrigo-SP.


A questão principal é que a população reduziu a alimentação fora de casa e derrubou a demanda por farinhas de pastelarias, padarias, pizzarias e outros restaurantes. "Nossos clientes abrem os armazéns e mostram que eles estão cheios. Se não é pão ou massa, realmente não sei o que as pessoas estão comendo em período de crise", afirmou Origuela.


Ele disse que empresas que vendem produtos mais simples estão até sofrendo mais que moinhos como o Anaconda, que tem blends, farinhas e pré-misturas para diferentes segmentos, como panificação, pizzarias e indústrias. Além disso, a companhia faz vendas diretas ao consumidor final - sobretudo em Curitiba, onde tem outra unidade.


Mesmo assim, a previsão de investimentos do Anaconda para o ano, que era de R$ 30 milhões, não deverá se concretizar, salvo surjam oportunidades em novas tecnologias. Paralelamente à preocupação do segmento com a retomada do consumo, Origuela disse que, à frente do Sindustrigo-SP, pretende continuar a apoiar o crescimento do cultivo de cereal em São Paulo e a reduzir as distorções tributárias estaduais que afetam a indústria.


A produção paulista do cereal ainda é limitada. Chegou a 240 mil toneladas na safra passada, enquanto a moagem no Estado alcançou 1,7 milhão. A capacidade instalada é de 3 milhões de toneladas. "Ainda há incentivo fiscal de alguns Estados, como Paraná e Rio Grande do Sul, para a venda de trigo e farinha para outros Estados. Essa falta de isonomia prejudica o consumidor e o setor", afirmou. Origuela é favorável à isonomia apesar de a Anaconda ter um moinho em Curitiba e ser beneficiada pelo incentivo paranaense.


No Paraná e no Rio Grande do Sul, a alíquota de ICMS é de 12%, mas as empresas que vendem para São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro têm direito a crédito de 10%. Em São Paulo, a alíquota é de 7%. Além disso, Origuela conta que, até pouco tempo, alguns moinhos creditavam indevidamente 12% de ICMS em vez dos 2% a que tinham direito. "Como 12%


era a taxa estampada na nota, as empresas usavam esse valor como crédito. Mas isso já mudou com a convalidação".


O executivo afirmou, ainda, que defende a liberação da Tarifa Externa Comum (TEC) do trigo para países de fora do Mercosul, como prometido pelo presidente Jair Bolsonaro em março. Neste ano, porém, diz que a janela já se fechou, porque a safra paulista começa a ser colhida em agosto e, em setembro, terão início os trabalhos no Sul do país.


"Não devemos ter problema de oferta nesta temporada com a promessa de grande safra no Brasil e na Argentina. Mas é sempre bom ter a possibilidade de ampliar os mercados  fornecedores", afirmou, lembrando que o segmento já compra trigo de EUA, Rússia e Canadá quando necessário. Desde o ano passado, porém, o câmbio não está favorável às importações, o que torna esse comércio difícil tendo em vista os problemas para repassar custos.


Nesse cenário, a ordem é manter a cautela. No caso do Moinho Anaconda, Origuela pretende manter a estratégia conservadora que perdura há três gerações e vai continuar a evitar empréstimos ou qualquer tipo de alavancagem.


"Discute-se opções no nosso conselho, mas há uma a convicção de que caixa é fundamental para o negócio e que estar capitalizada garante compras de oportunidade. Não é raro comprarmos um lote de trigo e segurarmos no estoque para garantir aquela qualidade. Também fazemos compras de volumes expressivos por conta de oportunidade de preço. E para tudo isso é preciso ter dinheiro em caixa."


Fonte: Valor Econômico


COMPARTILHE: