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Trigo: Menor estoque e necessidade de importação podem elevar preços

O mercado de trigo inicia 2019 com mais fatores que indicam sustentação de preços do que fundamentos que resultam em pressão, segundo pesquisadores do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP. Internamente, deve ser verificada maior necessidade por importação, devido à perda da qualidade da produção nacional de 2018 – agentes relatam, inclusive, que há trigo sendo destinado à ração animal, substituindo parte do milho.


A Argentina, principal fornecedora de trigo do Brasil, deve registrar crescimento na oferta, mas também maior interesse de compradores externo, o que tende a elevar os preços. Em termos mundiais, a oferta de 2018/19 será menor e o consumo, ligeiramente maior, reduzindo a relação estoque final/consumo, fator de sustentação de preços. Resta saber como o produtor brasileiro reagirá a este contexto e, consequentemente, qual será o impacto sobre a área destinada à cultura no primeiro semestre de 2019.


Para 2018, dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) indicam que a produção do cereal foi de 5,47 milhões de toneladas, bem maior que a do ano anterior. Entretanto, a qualidade foi bastante prejudicada pelo clima desfavorável. Assim, não haverá espaço para redução das compras externas.

 

Entre agosto e dezembro de 2018, as importações somaram 2,86 milhões de toneladas, contra 2,43 milhões no mesmo período de 2017. A Conab estima necessidade de importações de 6,3 milhões de toneladas entre agosto/18 e julho/19. 

 

A crescente necessidade de importação vai encontrar restrição na taxa de câmbio e nos preços internacionais. Para o dólar, tomando-se como base as negociações de contratos futuros na B3, entre 17 de dezembro de 4 de janeiro último, observa-se tendência de apreciação do Real em relação à moeda norte-americana. Entretanto, ao se avaliar as cotações médias desse período para cada um dos meses de 2019, observa-se taxa esperada entre R$ 3,86 (fev/19) e R$ 3,95 (dez/19). A expectativa de mercado, divulgado pelo Boletim Focus, é de dólar de R$ 3,80 no final de 2019.

 

Quanto aos preços externos, na Argentina, os valores FOB oficiais divulgados pela Secretaria de Agroindústria do Ministério de Produção e Trabalho, para o trigo tipo pão, indicam alta de 10% entre dezembro/18 e dezembro/19, chegando a US$ 250,00/t. A Bolsa de Cereais também indica elevação das cotações, já chegando a US$ 239,00/t em abril/19.

 

Nos Estados Unidos, as cotações nas Bolsas de Chicago (CME Group) e de Kansas já antecipam a redução da oferta mundial em importantes países exportadores, o que deve resultar em aumento nas vendas norte-americanas. Segundo o USDA, os Estados Unidos deverão ter crescimento de 25,7% nas exportações, passando a representar 16,3% dos embarques mundiais em 2018/19, contra 12,6% em 2017/18.

 

Considerando-se a média de preços de dezembro/18, os preços do trigo duro vermelho em Kansas indicam aumento de mais de 15% entre os contratos Dez/18 e Dez/19. Para a Bolsa de Chicago, em que se negocia o trigo mole vermelho de inverno, a valorização média desse mesmo período é de mais de 7%.

 

A produção mundial de trigo para a safra 2018/19, de acordo com dados do USDA, deverá ser de 733,4 milhões de toneladas, redução de 3,9% frente ao volume da safra anterior. O aumento na produção do cereal na Argentina, Canadá e Estados Unidos não deverão compensar os menores volumes disponíveis na Austrália, China, União Europeia e Rússia. Já o consumo mundial de trigo está previsto em 743,68 milhões de toneladas, 0,2% maior em relação a 2017/18. Assim, os estoques mundiais do cereal deverão ceder 4,2%, pressionando a relação estoque final/consumo para 36,1%, contra 37,7% na temporada anterior.

 

As transações mundiais de trigo deverão ter redução de 1,7% em comparação com a safra anterior, enquanto as exportações podem se reduzir em 3,9%, limitando-se a 175,79 milhões de toneladas, ainda de acordo com o USDA.

 

Na Argentina, principal fornecedor de trigo aos moinhos brasileiros, a produção deverá ser recorde, ficando entre 19 milhões e 19,5 milhões de toneladas. O consumo interno daquele país é estimado em 5,8 milhões de toneladas, abrindo possibilidade de exportações de mais de 14,2 milhões de toneladas entre dezembro/18 e novembro/19, em linha com o volume da temporada passada.

 

Com expectativa de sustentação de preços de trigo, fica a expectativa quanto à área a ser destinada à cultura em 2019 no Brasil. A priori, especula-se crescimento de área em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. Também poderá continuar se observando maior área com a cultura em regiões novas do Cerrado e em partes de Minas Gerais e do sul de São Paulo.

 

Para o Paraná, há uma dualidade. Muitos produtores estão retomando o interesse pelo trigo em detrimento do milho, devido ao alto custo com o cultivo de milho e também do risco de comercialização. Apesar de o trigo ser uma cultura também de alto risco de comercialização, insere-se o elevado risco de produção, mas há o fator favorável de menor necessidade de custeio e facilidade de crédito e seguro de produção. Segundo dados do Cepea, no oeste do Paraná, por exemplo, o trigo necessita de cerca de 25% a menos de crédito de custeio que o milho de segunda safra.

 

Quanto ao mercado de derivados de trigo no Brasil, a maioria dos moinhos estão ausentes nas compras do cereal, fator que deve continuar chamando atenção de parte das indústrias de ração, pelo menos nos primeiros meses do ano, enquanto não houver volume de milho suficiente para negociações a preços mais competitivos. No entanto, com as mudanças na economia brasileira, agentes do setor acreditam que as vendas de farinha irão melhorar, já que consumidores podem retomar suas compras de produtos finais, que contém trigo como ingrediente (Assessoria de Comunicação, 17/1/19)


Fonte: Brasil Agro


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