De dois anos para cá, primeiro por causa da pandemia de covid-19 e, mais recentemente, com a disparada de preços globais de alimentos – reflexo da guerra na Ucrânia -, pelo menos 35 países adotaram algum limite para a exportação de commodities agropecuárias, disse o economista sênior no Policy Center for the New South, Otaviano Canuto. Ele participou, na noite desta terça-feira (24), de live da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), com o tema “Preços de alimentos no mundo, desafios do futuro”.
Segundo ele, o que está ocorrendo agora com os preços de alimentos encontra um “forte paralelo” com a crise global de cotações desses produtos na primeira década dos anos 2000. Ele citou a Índia como exemplo recente de restrição de exportação de alimentos. O país, que costuma ser o quarto exportador mundial de trigo, anunciou, no sábado retrasado, veto às vendas externas do cereal. “Isso afetou imediatamente os preços do trigo, que subiram 6% logo que os mercados abriram na segunda-feira seguinte.” Canuto lembrou, ainda, da decisão da Indonésia, que contribui com 65% das exportações globais de óleo de palma, de também restringir suas exportações da commodity. “Essa decisão também fez explodirem os preços de óleos vegetais.”
Outro importante alimento que está sendo afetado por causa do conflito entre Rússia e Ucrânia é o óleo de girassol, cujo fornecimento global depende, em dois terços, desses dois países. “O conflito na Ucrânia danificou portos e a estrutura agrícola do país e isso limitará suas exportações de alimentos por um bom tempo”, disse Canuto. “As exportações ucranianas caíram de 5 milhões de toneladas por mês para 500 mil toneladas por mês; isso sem falar no trigo estocado nos portos da Ucrânia e que a Rússia não deixa sair.”
Fonte: IstoÉ Dinheiro