A quebra de safra em grandes fornecedores mundiais de trigo,
como Estados Unidos, Canadá e Rússia, e a guerra travada no leste europeu vêm
favorecendo as exportações brasileiras do cereal. No primeiro bimestre deste
ano, o Brasil, que é tradicionalmente um importador de trigo, enviou para o
exterior 1,48 milhão de toneladas do produto, volume recorde que corresponde a
um aumento de 184,2% em relação aos embarques do mesmo período de 2021, de
acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A
receita das vendas atingiu 473,46 milhões de dólares, um salto de 296,4% na
mesma base de comparação.
O analista Elcio Bento, da corretora Safras & Mercado,
explica que, embora tenham atingido patamares recordes após a invasão da
Ucrânia pela Rússia, as cotações do trigo já estavam em alta desde o ano
passado, o que explica o aumento de receita no primeiro bimestre. “O temor da
guerra já fazia os preços subirem, mas era principalmente porque havia uma
safra menor em grandes exportadores”, afirma Bento. Segundo ele os preços
competitivos da produção gaúcha impulsionaram a procura pelo trigo
brasileiro.
De um total de 3,5 milhões de toneladas colhidas pelo Estado
na safra 2021, pelo menos 2,5 milhões já foram exportados, estima a Federação
das Cooperativas Agropecuárias do Estado (FecoAgro-RS). Para Bento, a
perspectiva agora é de diminuição no ritmo dos embarques. “Mas, em termos de
preços, mesmo que tenhamos redução das tensões na Ucrânia, há pouco espaço para
queda aqui no Brasil”, avalia.
O analista Walter Von Mühlen Filho, da corretora Serra
Morena, também aposta em preços firmes para o trigo. Von Mühlen Filho esclarece
que o clima seco vem prejudicando a próxima safra no Hemisfério Norte, que
ingressa no mercado a partir de julho. E as incertezas quanto à duração da
guerra entre Rússia e Ucrânia, dois grandes fornecedores do grão, freariam uma
eventual queda de cotações.
O presidente da FecoAgro, Paulo Pires, destaca que os embarques deram liquidez à triticultura gaúcha. “O Rio Grande do Sul é o único estado que produz mais trigo do que consome, precisamos exportar”, destaca Pires.