Com a guerra na Ucrânia, o aumento do preço do trigo no mercado internacional incentivou brasileiros a aumentar o plantio.
O pãozinho é que leva a fama. O preço dele subiu 4,5% só no mês passado. Mas também tem outras delícias pesando no bolso do consumidor Demetrius Paparounis.
“Massas, biscoitos, que a gente compra em mercado, essas tortas. Agora a gente tem que olhar melhor, ver o que vai levar. Está complicado. O preço aumentou muito”, reclama.
São todos alimentos à base de trigo. O produto, que já havia ficado mais caro durante a pandemia, subiu cerca de 40% no mercado internacional desde o início da guerra na Ucrânia, que é o quarto maior produtor do mundo.
“A gente teve um choque de demanda durante a pandemia que esgotou, diminuiu muito os estoques de grãos internacionais. Isso está aumentando a participação do trigo brasileiro em relação ao trigo internacional, mas, mesmo assim, ainda temos que contar com a importação”, explica Sérgio de Zen, diretor de Informações Agropecuárias e Políticas Agrícolas da Conab
Como o Brasil produz 7,7 milhões toneladas de trigo ao ano, mas consome mais de 12 milhões, precisa importar 4,6 milhões toneladas.
Daí, já viu a dificuldade de Antônio de Oliveira Relvas, dono de padaria, de negociar a compra da farinha para os pãezinhos.
“Há um mês e meio, pagava R$ 75 e agora estou pagando já R$ 115. Estamos repassando um pouquinho só, o cliente não tem poder de compra. Se aumentar muito, perde muita venda”, afirma.
A solução para reduzir a dependência do trigo importado, principalmente da Argentina, está no campo.
Os principais estados produtores são Rio Grande do Sul, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Goiás e Bahia.
Jorge Lemainski, chefe-geral da Embrapa Trigo - que acompanha há 40 anos o desenvolvimento da cultura no Brasil -, diz que o plantio no país permite projetar um recorde na colheita de agosto.
“A demanda de sementes, a demanda de insumos em si e o contato com os produtores nos remetem a esse ambiente, sim, de aumento de área cultivada na ordem de 11% na produção da oferta de trigo do Brasil”, explica.
O aumento dos preços internacionais do trigo é um incentivo à expansão do cultivo no Brasil, o que se deve a anos de pesquisas tecnológicas, que aumentaram a produtividade e os ganhos do produtor por hectare.
No ritmo de crescimento atual, especialistas dizem que em 10 anos a produção brasileira de trigo pode dobrar, tornando o Brasil autossuficiente, com a possibilidade de abastecer todos os moinhos do país, além de fazer as exportações deslancharem. E tem ainda com uma outra vantagem:
“Supriremos parte da demanda mundial de trigo com a estrutura já existente no país sem necessidade alguma de abrir novas áreas, sem necessidade de desmatar”, diz o chefe da Embrapa Trigo.
“É só o Brasil que consegue ter essa versatilidade e essa amplitude de plantio e colheita”, ressalta Sérgio de Zen, da Conab.
Do moinho à padaria, a torcida é grande.
“Imagino que se produzir aqui a gente não fica tão sujeito ao preço lá de fora”, afirma Demetrius.
“O pão é nosso carro-chefe. Nós vendemos bastante”, diz Antônio, dono de padaria.
Fonte: Jornal Nacional