O Brasil pode retomar as compras de trigo russo ainda neste ano, avalia a trading russa Sodrugestvo, que atua na originação e exportação de soja, milho e trigo no País. “A Rússia está retomando a exportação em larga escala a partir deste mês. É possível ver algum volume de venda de trigo russo para o Brasil de setembro a dezembro, embora até o momento ainda não se tenha registro”, disse o head de Trigo da Sodrugestvo Brasil, Douglas Araujo, em entrevista exclusiva ao Broadcast Agro nos bastidores do 29º Congresso Internacional do Trigo, realizado pela Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo) e que terminou terça-feira (27) em Foz do Iguaçu, no Paraná.
Araujo acredita ser viável a importação de trigo russo por moinhos do Nordeste no último trimestre deste ano em virtude de a safra nacional estar concentrada no Sul e entrar em grande escala no mercado a partir da segunda quinzena de outubro e em novembro, além de ser o período da entressafra argentina. “O balanço de oferta e demanda do Nordeste segue mais orientado pelo cereal importado. Este período casa com a entressafra argentina. É possível ver em breve registros de importação do trigo russo”, projetou. Pela distância do Sul, a paridade do cereal importado muitas vezes fica mais atrativa aos moinhos do Nordeste que o trigo nacional.
A importação de trigo russo pelo Brasil vinha em tendência crescente desde 2019, após o estabelecimento de uma cota pelo governo brasileiro para importação de cereal fora do Mercosul sem tarifa de exportação, de 10%. O maior volume ocorreu em 2020 com a entrada de 238 mil toneladas de trigo russo no País. Em 2021, 28 mil toneladas de trigo russo foram internalizadas pela indústria moageira brasileira, especialmente por moinhos do Nordeste. Neste ano, ainda não foram reportados embarques de trigo russo ao Brasil.
A ausência de importação de trigo russo por moinhos brasileiros neste ano, segundo Araujo, deve-se à conjuntura de mercado. Ele lembra que o início do conflito entre Rússia e Ucrânia levou ao aumento expressivo das cotações internacionais do cereal em meio à entressafra russa - período que o país comumente não comercializa cereal ao exterior. “No início do terceiro trimestre, tivemos a entrada acelerada do trigo americano no mercado. Assim, compradores adquiriram trigo dos EUA com bastante disponibilidade e preços convidativos. O trigo russo não estava tão barato naquele momento”, ressaltou, acrescentando que quando a trading ofertou cereal russo aos moinhos brasileiros, o volume foi adquirido por compradores do México.
Outra janela que pode ser favorável à comercialização de cereal russo à indústria moageira brasileira pode ocorrer no segundo trimestre do ano que vem, a partir de abril, prevê Araujo. “Em uma situação específica desta safra, Argentina passa por redução da safra e volume limitado de exportações. Estes dois fatores podem tornar Rússia e Estados Unidos, e até mesmo a Lituânia, ativos no mercado brasileiro no segundo trimestre de 2023, o que é atípico porque é um período que a Argentina ainda costuma ter trigo para vender”, estimou.
Na avaliação de Araujo, no próximo ano, considerando a provável quebra na safra argentina e a eventual exportação de trigo brasileiro, a Rússia pode voltar a figurar entre as principais origens de importação de trigo pela indústria moageira. “O trigo russo pode ter maior representatividade na balança de importação do Brasil, assim como o americano e eventualmente até o americano, em virtude da menor disponibilidade da Argentina, com licença de exportação menor e quebra de safra. Por consequência, o Brasil tem de comprar cereal de outra origem”, avaliou.
Na atual safra 2022/23, acrescenta Araujo, as licenças de exportação argentina foram limitadas em 10 milhões de toneladas ante 14,5 milhões de toneladas da safra 2021/22. “Se o governo argentino emitir novas licenças ampliando o volume, o Brasil tende a comprar da Argentina que geralmente possui um trigo mais barato. Se isso não ocorrer, o Brasil terá de buscar trigo em outras origens e, provavelmente, pagará um pouco mais caro para cumprir suas importações”, considerou o head de Trigo da Sodrugestvo Brasil.
Segundo Araujo, apesar da guerra entre Rússia e Ucrânia, a Sodrugestvo manteve normalmente suas atividades de originação e exportação de soja brasileira para a Rússia e a exportação de trigo russo para variados destinos, como o México.
Fonte: Broadcast