A Câmara Setorial do Trigo do Estado de São
Paulo realizou, na manhã desta quinta-feira (16), a terceira e última reunião
do ano. O encontro ocorreu no Entreposto Itaberá I da Cooperativa Castrolanda,
com transmissão on-line pelo canal do Sindustrigo no YouTube. O foco do evento
foi a análise das perspectivas para a safra 2025, marcada por volume expressivo
e qualidade superior do trigo colhido no estado.
Durante a reunião, o presidente da Câmara
Setorial do Trigo, Nelson Montagna, apresentou a projeção atualizada da
colheita paulista. “Com base nos dados que temos até o momento, a expectativa é
de uma colheita muito próxima das 400 mil toneladas, acima das 350 mil
indicadas nas estatísticas preliminares. A projeção é positiva não apenas em
volume, mas também em qualidade, que está entre as melhores dos últimos anos”,
detalhou, ao ressaltar o bom desempenho das áreas de sequeiro.
A mudança de cenário ao longo do ano foi
atribuída às condições climáticas favoráveis. Para Montagna, o clima foi
determinante para consolidar os bons resultados da atual temporada. “Nossa
previsão inicial era de uma safra menor. Já havia mencionado, na última reunião
da Câmara, que acreditava em uma das melhores safras dos últimos tempos, e isso
está se confirmando. O clima foi excelente, o que contribuiu para uma qualidade
superior em relação aos últimos anos e impactou positivamente a produtividade”,
frisou.
O presidente do Sindustrigo, Max Piermartiri,
que também marcou presença no encontro, reforçou a importância da combinação
entre tecnologia e clima na performance da safra. “Tivemos uma coincidência
muito positiva: a evolução genética das cultivares coincidiu com condições
climáticas extremamente favoráveis para a cultura do trigo. Como resultado,
obtivemos produtividade elevada e qualidade muito acima da média nas lavouras
paulistas”, explicou.
Piermartiri também destacou o papel
estratégico de São Paulo na cadeia nacional do trigo: “O mais importante é
destacar que São Paulo possui uma cadeia do trigo muito sólida, que envolve
produção, suprimentos, moagem, transformação da farinha e produção de
alimentos, com um nível de organização e profissionalização raro. Poucos
lugares no mundo reúnem, de forma tão próxima, uma região de produção e de
consumo como São Paulo. Isso é uma grande vantagem competitiva para o estado.”
Cenário global de recuperação e desafios internos
No cenário internacional, o mercado de trigo
vive um momento de recuperação. A expectativa é de que a produção mundial
atinja 816 milhões de toneladas em 2025, com destaque para o desempenho
europeu. Apesar disso, o Brasil caminha em sentido oposto, com colheita menor e
maior dependência de importações.
O representante da CJ Internacional, Douglas
Araújo, explicou que a área plantada no país foi reduzida, o que impactou a
produção nacional. “No Brasil, estamos produzindo menos trigo neste ano,
principalmente porque a área semeada foi menor. Em termos de produtividade, o
destaque fica para o Centro-Oeste, especialmente Minas Gerais”, contextualizou.
Embora o Rio Grande do Sul deva manter um
volume expressivo de exportações, o país segue dependente do trigo importado
para atender à demanda. “O Brasil é um gigante adormecido na produção de trigo.
Pode produzir muito mais do que produz hoje, especialmente nas safras de
inverno”, alertou Araújo, ao citar o avanço do país em inovação tecnológica,
com destaque para o cultivo no Cerrado.
“Nessa região, podemos utilizar técnicas como
o trigo por sobressemeadura em lavouras de milho, com semeadura a lanço (por
máquina ou avião) e até sistemas de inundação. Após a colheita do milho,
inicia-se rapidamente a safra do trigo, com um ciclo de aproximadamente 75
dias. O trigo pega carona na cultura anterior e pode gerar rendimentos muito
elevados”, explicou.
Em São Paulo, apesar de ser referência em
consumo e moagem, ainda há desequilíbrio entre produção e demanda. A
necessidade regional gira em torno de 3 milhões de toneladas por ano, enquanto
a moagem atinge cerca de 1,8 milhão de toneladas. A produção local é estimada
em cerca de 400 mil toneladas.
Esse cenário reforça a dependência de
importações e a importância da logística regional. “São Paulo tem um consumo
expressivo e precisa recorrer ao mercado externo. O Porto de São Sebastião pode
ser uma rota complementar importante para garantir o abastecimento do trigo no
estado”, afirmou Araújo.
Pesquisa avalia origem do trigo e percepção de qualidade
Durante o encontro, também foram apresentados
os resultados da pesquisa “Tracking – Origem do Trigo de Associados”, que chega
ao seu terceiro ano consecutivo. O levantamento teve como objetivo mapear o
volume total de trigo adquirido dentro do estado pelos associados do
Sindustrigo e comparar a percepção de qualidade entre os trigos paulista e
argentino.
A iniciativa reforça o compromisso da entidade
com a rastreabilidade, a valorização da produção regional e o aprimoramento
contínuo da cadeia do trigo em São Paulo.