O grupo alimentação no domicílio pode registrar a primeira deflação em seis anos, na esteira do arrefecimento dos preços de alimentos in natura e de carnes, num cenário marcado ainda pela supersafra brasileira da soja e pela relativa normalização do mercado de trigo. No acumulado em 12 meses, a inflação da comida em casa no IPCA, que chegou a avançar 17,5% em julho de 2022, já cedeu para 2,9% em junho deste ano. Isso ajuda na desaceleração do indicador oficial do regime de metas de inflação, que poderá ficar abaixo de 5% neste ano.
Há riscos que podem impedir a variação negativa da alimentação em domicílio em 2023, como os efeitos do El Niño e da tensão entre Rússia e Ucrânia sobre produtos como o trigo, mas os economistas que trabalham com a possibilidade de deflação desse grupo ponderam que eventuais impactos podem ficar mais para 2024. Ainda assim, a inflação de alimentos deve ser historicamente baixa. Em 2022, após os desdobramentos da pandemia, agravados pela guerra na Europa, os preços da alimentação em casa saltaram 13,2%, mais que o dobro do IPCA, que subiu 5,8% no ano.
Para 2023, o consenso do mercado para alimentação em casa foi de alta de 4,3% no início do ano para 0,9% na última coleta do Boletim Focus. A LCA Consultores projeta queda de 0,1%; a Ativa Investimentos espera contração de 0,3%, o Santander, de 0,4%, e a Asset 1, de 0,5%. A última vez que o grupo registrou deflação foi em 2017, de 4,9%.
“Desde 2019, foram quatro anos de altas importantes. Temos assistido, depois de praticamente dois anos de pressões muito fortes nos preços de commodities agrícolas, um rearranjo parcial das cadeias produtivas, o que contribui para, mais adiante, tirar a força dos preços dos alimentos”, diz Fábio Romão, da LCA. Segundo ele, o consumidor pode não sentir todo esse alívio porque, mesmo com quedas ou com a desaceleração nos preços, o nível, que estava muito alto, continua elevado. “É como se tivesse subido uma montanha muito rápido e agora está descendo devagar.”
Fonte: Globo Rural