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Brasil receberá carga de trigo russo nove anos após proibição

Está a caminho do Brasil um navio com 25 mil toneladas de trigo produzido na Rússia. A carga será analisada pelos fiscais dos portos, que avaliarão as condições fitossanitárias do cereal. Caso o carregamento seja aceito, será a primeira importação do cereal russo em oito anos.

O trigo da Rússia estava impedido de entrar no país desde 2009 por não atender as exigências sanitárias brasileiras. O último desembarque de trigo russo em portos brasileiros foi em 2010, com uma carga de 28 mil toneladas. Em dezembro de 2017, o Ministério da Agricultura publicou regras flexibilizando exigências de importação, o que permitiu a entrada do cereal russo. A reabertura ocorreu logo depois que Moscou bloqueou todas as importações de carnes bovina e suína brasileiras - o embargo russo ainda não foi revertido.

Segundo boletim da consultoria Trigo & Farinhas, foram compradas 25 mil toneladas que devem abastecer três moinhos do Nordeste, sendo um lote de 5 mil toneladas e outros dois de 10 mil toneladas, todos com preço de US$ 270 por tonelada. O navio deve encostar no litoral ainda em julho, segundo Luiz Pacheco, diretor da consultoria.

A comercializadora é a trading russa Sodrugestvo, apurou o Valor. A companhia, que já negocia outros grãos no Brasil, arcará com eventuais custos para redirecionar a carga caso ela seja rejeitada no Brasil. Procurada, a companhia russa preferiu não comentar.

Uma permissão de entrada do trigo russo no Nordeste deve pressionar o cereal argentino, que abastece os moinhos da região, na avaliação de Marcelo Vosnika, presidente do conselho deliberativo da Associação Brasileira da Indústria de Trigo (Abitrigo).

Os moinhos nordestinos são abastecidos com trigo importado, basicamente da Argentina. Mas o lote russo tem preço próximo ao valor que o cereal argentino desembarca na região. "Os argentinos terão que baixar um pouco o preço. Com isso, já voltam a exportar ao Nordeste", avalia Vosnika.

Se a Argentina reduzir o preço, ele acredita que será difícil a Rússia competir, já que o produto russo precisa pagar a Tarifa Externa Comum (TEC) de 10%, da qual os argentinos estão isentos.

Já Luiz Pacheco não acredita nessa competição por causa da qualidade do cereal russo. "O trigo deles é de baixa qualidade, não dá para usar na panificação. E, para moer, a indústria precisa adaptar as máquinas, o que ela não gosta de fazer", afirma.

O impacto no mercado interno deve ser ainda menos relevante. Com mais de um mês para o início da colheita nacional de trigo, o preço do cereal brasileiro que está sendo negociado agora refere-se a volumes marginais e está se sustentando pelo efeito indireto da alta do dólar, segundo Vosnika. Como o Brasil é dependente de importações, o trigo nacional acaba oscilando conforme o valor em reais pelo qual o cereal estrangeiro chega ao país.

Fonte: Valor Econômico


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