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														A colheita do trigo, uma das principais culturas de inverno da região de Passo Fundo, deve começar somente em novembro. A projeção é do supervisor regional da Emater, Oriberto Adami, que avalia que o ciclo da cultura foi retardado pelas chuvas de julho, mas ainda apresenta boas perspectivas de produtividade e qualidade dos grãos.
Apesar do otimismo quanto ao desempenho no campo, a preocupação dos produtores é com o preço do produto. A cotação, que chegou a R$ 70 a saca, atualmente está entre R$ 62,00 e R$ 65,00, o que reduz a rentabilidade em um momento de custos elevados. “A gente tem uma boa safra, com boa qualidade, mas o preço caiu justamente agora, na hora da colheita. Esse é o principal problema que os produtores estão sinalizando”, afirmou Adami.
Expectativa
Na região de Passo Fundo, foram plantados cerca de 110 mil hectares de trigo, segundo levantamento da Emater. O atraso no plantio, causado pelas chuvas no inverno, empurrou o calendário da colheita para o mês de novembro. “A cultura está um pouco atrasada, mas sem prejuízos. A colheita normalmente começa no início do mês, mas neste ano deve se concentrar entre os dias 10 e 20 de novembro”, explicou o supervisor.
Mesmo com o atraso, o potencial produtivo é considerado alto. “Existe uma expectativa até de superar a média de 60 sacas por hectare, se o tempo continuar favorável nas próximas semanas”, afirmou Adami.
Segundo ele, houve uma pressão recente de doenças fúngicas, especialmente a giberela, em razão de alguns dias nublados e chuvosos, mas muitos produtores realizaram tratamentos complementares. “Muitos agricultores chegaram a fazer até quatro aplicações de fungicidas, apostando no potencial da lavoura”, destacou.
Rentabilidade
Se o campo está respondendo bem, o mercado preocupa. A queda no preço do trigo é sentida em toda a região e ameaça a rentabilidade da safra. “O custo de produção, dependendo da tecnologia utilizada, gira entre 55 e 60 sacas por hectare. Então, o produtor precisa colher 70 sacas para ter uma pequena margem de lucro”, explicou o supervisor.
Adami observa que fatores variados podem estar afetando o preços do grão. “Ainda não há um motivo claro para a queda, mas o mercado está retraído. O produtor está colhendo um trigo de excelente qualidade e, mesmo assim, o preço não reage”.
Apesar disso, há perspectivas positivas para o futuro do setor. A instalação da planta da Be8, em Passo Fundo, voltada à produção de etanol e derivados de trigo, pode abrir novas oportunidades. “Esse projeto deve gerar uma demanda significativa por trigo de qualidade, criando uma concorrência positiva com os moinhos e ampliando as opções de comercialização para o produtor”, avaliou Adami. A expectativa é que, nos próximos cinco anos, a indústria possa exigir até 200 mil hectares adicionais de trigo na região.
Canola: uma aposta que deu certo
Enquanto o trigo enfrenta o desafio do preço, a canola se destacou neste inverno como a cultura mais rentável. Na região de Passo Fundo, a área plantada dobrou de uma safra para outra, saltando de 3 mil para 6 mil hectares, acompanhando o movimento estadual de expansão, que chegou a cerca de 200 mil hectares. “A colheita da canola praticamente já encerrou, e foi um excelente ano”, destacou o supervisor. Segundo ele, a produtividade ficou entre 30 e 40 sacas por hectare, com uma média acima de 25 já considerada muito boa. “O custo de produção é em torno de 18 sacas por hectare, e o preço está acima da soja, o que garante rentabilidade. Em muitos casos, o produtor teve retorno líquido acima de R$ 2 mil por hectare”, detalhou.
Além do bom resultado financeiro, a canola traz benefícios agronômicos. “É uma leguminosa, diferente das gramíneas como trigo e soja. Isso ajuda na rotação de culturas e no controle de pragas e doenças, além de melhorar o solo para o ciclo seguinte”, ressaltou Adami.
Milho e soja iniciam ciclo com boas condições
Com o ciclo das culturas de inverno chegando ao fim, as lavouras de verão já começam a ganhar espaço no campo. O milho apresenta bom desenvolvimento vegetativo, e parte das áreas já recebeu adubação de cobertura. Adami alerta que os meses de novembro e dezembro serão decisivos para a cultura, período em que ocorre a floração e a formação das espigas, exigindo regularidade nas chuvas. “O início é promissor, mas o milho ainda depende muito do clima nessas próximas etapas.”
A soja também começou a ser plantada em áreas já dessecadas, aproveitando a boa umidade do solo. “As condições são propícias. O solo está com boa umidade, e a temperatura está se elevando gradualmente, o que favorece o início do ciclo”, avaliou.
Balanço positivo
Para o supervisor regional da Emater, o balanço geral é de um ano agrícola positivo, com bom desempenho técnico das lavouras e perspectivas de produtividade acima da média. Contudo, a rentabilidade segue como o ponto de atenção. “Temos uma boa safra, de excelente qualidade, mas o preço é o fator que preocupa. A rentabilidade está muito apertada, e isso pesa na renda por hectare”, avaliou Adami.
Ainda assim, o cenário futuro traz expectativas otimistas, especialmente com a diversificação das culturas e novas oportunidades de mercado. Segundo ele a canola mostrou que é uma alternativa viável e lucrativa, e o trigo deve ganhar novas portas com a indústria de etanol e derivados. O produtor precisa olhar para essas tendências, pensando não só na próxima safra, mas no fortalecimento da renda e da sustentabilidade do sistema produtivo.
Fonte: O Nacional