Apesar da euforia causada pelo alívio nas restrições às exportações de trigo pela Argentina, os moinhos brasileiros estão neste momento bem reticentes em fechar contratos de importação do cereal. O motivo é que, com o dólar valorizado frente ao real, o trigo argentino está 30% mais caro que o nacional.
No entanto, o que preocupa o setor é que as compras não poderão ser adiadas por muito mais tempo. Em março, os estoques da indústria começam a minguar, e o cenário é crítico, na medida em que a necessidade de importação do cereal pelo país está neste ano 15% maior que há um ano.
Conforme levantamento da consultoria Safras & Mercado, o cereal argentino posto no porto de Santos (SP) está saindo nesta semana por R$ 1.018 a tonelada, ante os R$ 760 e R$ 780 que se paga atualmente pelo mesmo volume no Paraná, principal produtor brasileiro. Desde o início do atual anocomercial 2015/16, em agosto passado, até dezembro, o Brasil comprou do exterior 2,150 milhões de toneladas do cereal de diferentes origens, 6,5% menos que em igual intervalo de 2014.
Os moinhos brasileiros estão abastecidos até março, informou o presidente do conselho deliberativo da Associação Brasileira da Indústria de Trigo (Abitrigo), Marcelo Vosnica. Ele explica que a partir de meados de fevereiro, o setor terá que se posicionar na exportação, na medida que há pouca disponibilidade de trigo de melhor qualidade no mercado interno.
Para o produtor brasileiro que ainda tem trigo para vender a notícia é boa, diz o especialista da Safras & Mercado, Élcio Bento. A projeção é de que os preços internos subam até 29% até o início da próxima colheita no país, em agosto.
O câmbio no entanto não é o único problema da indústria. Por conta da quebra da safra no Sul do país, a necessidade de importação dos moinhos será bem maior que há um ano. A previsão da consultoria é de que o Brasil tenha que trazer do exterior durante todo o anocomercial 2015/16 em torno de 6,8 milhões de toneladas (2,150 milhões já entraram até dezembro) para atender sua demanda interna, estimada em 10 milhões. No anocomercial anterior, o país importou 5,9 milhões.
Mas como o Mercosul não terá trigo suficiente para atender à demanda brasileira, os moinhos terão que buscar o cereal fora do bloco, o que trará um ônus adicional: os 10% da Tarifa Externa Comum (TEC). O bloco sul americano só terá 5,2 milhões de toneladas para oferecer, faltando, portanto, 1,6 milhão de tonelada para fechar a conta, segundo a consultoria.
Segundo Bento, a área com trigo da Argentina ainda foi plantada na atual safra sob o efeito da política restritiva às exportações do governo anterior, de Cristina Kirchner. A próxima semeadura já influenciada pela retirada do imposto de exportação de trigo anunciada pelo novo presidente, Maurício Macri pode crescer ao menos 20%.
Fonte: Valor Econômico