Notícias setorial/mercado

Escassez e preços elevados do milho fazem frigoríficos recorrerem ao trigo

A escassez e os preços elevados do milho no mercado doméstico estimularam, nas últimas semanas, a demanda dos produtores de aves e suínos por trigo, o que não é tão comum no Brasil. O uso de trigo na composição de rações, estratégia usada inclusive por empresas como a BRF, fez disparar as cotações do cereal no Paraná, Estado que lidera a produção no país. Segundo o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná, o preço do trigo subiu 8% no último mês, sendo 4% apenas na última semana.

Ontem, a saca de 60 quilos do trigo foi cotada, em média, a R$ 44,91 no Paraná, enquanto o milho ficou em R$ 41,87. Normalmente, a correlação entre os dois é de 1,5 vez. "Essa relação desapareceu com as indústrias de ração comprando todo o trigo disponível", afirmou Carlos Hugo Godinho, analista de cereais do Deral.

Para se ter ideia, desde maio de 2015 o reajuste do trigo foi de "apenas" 19%, o que mostra como os 8% do último mês são um "disparate", disse o analista. "Como estamos na entressafra do cereal, os moinhos também estão pagando preços melhores e isso deu apoio às cotações", acrescentou.
De acordo com Godinho, 97% do trigo colhido no Estado não está mais nas mãos dos produtores. Mas é difícil saber o volume disponível para aquisição por indústrias de ração e farinha porque a maior parte está com as cooperativas. "Elas não abrem os dados de estoque porque são estratégicos".

De toda maneira, a estratégia de aquisição de trigo para usar na ração animal é pontual, mesmo porque a produção brasileira do cereal é muito menor do que a de milho - são 5,5 milhões de toneladas de trigo contra 84,6 milhões de toneladas de milho na atual safra (2015/16), segundo projeções da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Se a decisão de comprar trigo para uso na ração é pontual, o mesmo não se pode dizer das importações de milho feitas pelas indústrias de aves e suínos. As compras do cereal da Argentina e do Paraguai seguem aquecidas.

Conforme a agência Bloomberg, tradings e produtores de frango pretendiam importar milho dos EUA, mas como variedades transgênicas do cereal não são aprovadas no Brasil, a compras estão em suspenso. Segundo a agência, a indústria considera solicitar ao governo brasileiro uma autorização para importar o cereal do EUA. 

Fonte: Valor Econômico/ Por Fernanda Pressinott


COMPARTILHE: