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Estudo da Fiesp mostra os efeitos da crise na mesa dos brasileiros

Na abertura do evento A Mesa dos Brasileiros - Transformações, Confirmações e Contradições, Paulo Skaf, presidente da Fiesp e do Ciesp, destacou o forte embasamento do estudo que levou à realização dos debates do dia. A pesquisa anterior, feita em 2010, ocorreu em momento diferente da economia brasileira, lembrou Skaf, e a atualização deverá ser útil para conhecer a nova realidade. Educação alimentar e inovação vieram para ficar, afirmou.

O evento foi realizado na quarta-feira (23 de maio) pela Fiesp para apresentar os resultados da pesquisa inédita, de abrangência nacional, com uma amostra de 3.000 consumidores em 12 regiões metropolitanas. O objetivo é promover um amplo debate entre os stakeholders da indústria brasileira de alimentos sobre as tendências identificadas.

O primeiro painel, Transformações, abordou as principais modificações nos hábitos de consumo nos últimos 7 anos, a partir das transformações econômicas e das mídias sociais. Ao apresentar o painel, Antonio Carlos Costa, gerente do Deagro, destacou a importância da pesquisa para pequenas e médias empresas, para as quais é difícil pagar levantamento semelhante. E também é útil para a sociedade brasileira como um todo.

Ela atualiza, explicou, estudo semelhante feito em 2010. Houve transformações, confirmações e contradições. Uma das mudanças verificadas foi a maior importância dada pela população ao preço baixo na hora da escolha de alimentos.

O moderador do painel foi Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva. Foi fundador e presidente do Data Favela e Data Popular.

Luiz Pretti, presidente da Cargill Brasil, destacou que no caso específico do azeite, dificilmente o consumidor volta a produtos como o composto de óleo e azeite, a menos que a situação econômica fique realmente difícil. Acha importantes a inovação, a sustentabilidade e a saudabilidade.

Jacyr Costa Filho, presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp (Cosag), destacou a importância da culinária na cultura. "O papel da indústria é manter o papel da cultura de cada país", disse.

Márcia Esteves, presidente da Grey, agência de comunicação, ressaltou que a pesquisa mostra que a marca continua a ter importância central para as pessoas. "Marcas fortes e bem construídas fazem parte da vida das pessoas." Não é promoção, guerra de preços, que vai levar o mercado para a frente, afirmou. Recomendou estar perto do consumidor, para saber o que faz diferença em seu dia a dia. E a internet é riquíssima nesse tipo de informação.

Renato Dolci, especialista em data science e transformação digital, disse que a busca por informação e o excesso de informações são evidentes. A indústria de alimentos é a principal vítima de fake news, destacou. Chama a atenção de Dolci o poder de influenciadores digitais nos hábitos das pessoas. Deu como exemplo a apresentadora de programa de culinária Bela Gil e a cúrcuma, que disse usar para escovar os dentes, levando a 5 milhões de buscas pelo termo por dia, contra 3.000 antes de sua declaração.

Receita é o segundo tópico mais consumido em redes sociais, revelou. A busca é por comida saudável, mas também por doces, e tem grande peso o influenciador digital, afirmou. Gourmet veio para ficar, disse. A busca por informações também.

O levantamento

Impactados pela crise, os brasileiros tiveram que rever muitos dos seus hábitos, inclusive aqueles relacionados à alimentação, é o que aponta a pesquisa A Mesa dos Brasileiros: transformações, confirmações e contradições, realizada pelo Departamento do Agronegócio da Fiesp (Deagro). A pesquisa, com 3.000 pessoas entrevistadas em 12 regiões metropolitanas do país, mais as cidades de Ribeirão Preto e São José do Rio Preto, apontou que nos últimos anos o preço baixo ganhou importância no processo de compra de alimentos, hoje considerado um dos principais drivers de escolha da categoria. Em 2010, ser mais nutritivo/ enriquecido com vitaminas vinha à frente de ser barato. Esta posição se inverteu em 2017.

O processo de racionalização do consumo atingiu 70% dos entrevistados, que admitiram ter mudado ao menos algum de seus hábitos de compras e consumo de alimentos em função da crise, que impactou principalmente pessoas com renda mais baixa, mulheres e internautas.

Essa racionalização do consumo tem consequências duradouras. Segundo a pesquisa, 63% afirmaram que pretendem manter parte dos novos hábitos adotados durante a crise, atingindo principalmente mulheres (65%) e pessoas com renda mais alta (66%), seguido pela classe baixa (58%) e homens (61%).

Dentre as principais atitudes que tomaram para tentar minimizar os efeitos da crise, se destacaram a busca por melhores oportunidades de compra e o preparo das refeições no próprio domicílio (74%), sendo a maior proporção de internautas, mulheres e classe baixa.

A pesquisa mostra ainda que o consumo de alimentos semiprontos foi impactado em razão da redução do número de pessoas que afirmaram não ter tempo para cozinhar, sendo 46% em 2010 e 38% em 2017. "Com a vida que levo, não tenho tempo para cozinhar em casa" foi a resposta de 46% dos entrevistados em 2010 e de 38% em 2017. Já a afirmação "prefiro comprar alimentos semiprontos para não perder muito tempo cozinhando" atingiu 42% da amostra em 2010 e apenas 28% em 2017. Por outro lado, a busca por alimentos com desconto ou na promoção se intensificou, passando de 43% para 50% entre 2010 e 2017.

Quanto à busca de informação por alimentos, a pesquisa mostra que houve total inversão entre TV e internet. Em 2010, a relevância da TV aparecia entre 40% dos entrevistados, e hoje esse porcentual é dedicado à internet, que naquele ano detinha apenas 19% da amostra.  Nessa linha, o porcentual de brasileiros que se considera muito bem informado sobre a importância dos alimentos para a saúde passou de 15% para 21% entre 2010 e 2017. Já o nível de conhecimento da maioria dos termos relacionados à alimentação aumentou desde 2010, especialmente "orgânicos", passando de 40% para 60%, "sustentabilidade", de 27% para 48% e "emissões de carbono", de 21% para 35%.

Mesmo diante de um cenário de crise econômica e valorização do preço baixo, marca continua sendo o principal driver de compra de alimentos. Entre 2010 e 2017, ter marca em que eu confio ou conhecida permaneceu em 1º lugar entre os entrevistados, com ganho de importância, especialmente, para os alimentos mais básicos, como arroz, de 44% em 2010 e 57% em 2017; feijão, de 36% para 54%; café, de 32% para 48%; e leite, de 24% para 35%. Neste cenário, para evitar o custo do erro, 71% dizem não se importar de pagar mais pelas marcas em que confiam, enquanto em 2010 eram 66%.

Para a classe C, a reputação da marca é um fator determinante. "Se o produto de uma marca ruim está estragado, a culpa é da marca. Se o produto de uma marca boa está estragado, a culpa é do mercado". Outro argumento é "eu não compro o que está com preço muito baixo, porque a qualidade deixa a desejar e a gente acaba perdendo". Com os resultados apurados, a pesquisa considera que a expectativa dos brasileiros para 2027 é que marca continue sendo o principal driver de escolha de alimentos industrializados.

Outros assuntos estratégicos sobre o consumo de alimentos do brasileiro estão disponíveis em www.fiesp.com.br/amesadosbrasileiros

 


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