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EUA querem exportar trigo com tarifa zero ao Brasil

Os Estados Unidos passaram a cobrar do Brasil acesso ilimitado para exportar trigo ao mercado brasileiro com tarifa zero num período fixo do ano, entre fevereiro e setembro. Em dois encontros entre representantes do primeiro e do segundo maior exportadores mundiais de produtos agrícola na Organização Mundial do Comércio (OMC), ontem, a questão do comércio de trigo dominou as discussões, apurou o Valor.

De seu lado, o Brasil reafirmou sua proposta de reduzir a alíquota consolidada da commodity, de 55% para 37,9%, nos compromissos do país na OMC. Essa seria uma forma de compensação, já que o Brasil rejeitou a demanda americana de criação de cota tarifária de 750 mil toneladas de importação de trigo com tarifa baixa, que Brasília chegou a se comprometer a adotar ainda na Rodada Uruguai.

A delegação americana avisou que a recusa formal da proposta brasileira de redução da tarifa consolidada virá depois que o US Trade Representative (a agência de negociação comercial dos EUA) tiver seu novo chefe confirmado pelo Congresso, o que deve ocorrer nas próximas semanas.

Mas foi adiante com uma demanda ainda mais agressiva, cobrando acesso ilimitado ao trigo americano no mercado brasileiro num determinado período do ano, sem cobrança de alíquota. O problema é que, primeiro, dentro do período sugerido por Washington ocorre a colheita de trigo produzido no Brasil.

Segundo, esse acesso ilimitado daria uma entrada muito maior ao trigo dos EUA no mercado brasileiro do que a cota defendida anteriormente por Washington. Terceiro, haveria problemas também para o Brasil no Mercosul, já que a Argentina, Paraguai e Uruguai teriam sua vantagem como sócios do bloco anulada e uma concorrência direta com os EUA.

A impressão entre observadores na cena comercial é de que a administração de Donald Trump está elevando a demanda para tentar obter pelo menos a cota que o Brasil já se recusou a adotar.

Em segunda reunião bilateral, os EUA apareceram com a União Europeia e o Paraguai, desta vez para insistir na preocupação com supostos efeitos sobre as exportações do apoio dado por Brasília aos produtores de trigo brasileiros por meio do Prêmio para Escoamento do Produto (PEP) e do Prêmio de Equalização pago ao Produtor (Pepro).

Washington marcou posição, refletindo pedido de produtores americanos para reagir aos programas brasileiros. A delegação do Brasil já tinha afirmado na segunda-feira na OMC que o PEP continuará sendo operado como antes, só beneficiará o trigo e que a ferramenta não distorce o comércio internacional do produto.

No Comitê de Agricultura da OMC, os subsídios ao trigo também levaram a Índia a ser questionada pela Austrália, com apoio dos EUA, Ucrânia, Canadá e UE. Os indianos explicaram que a garantia de preço mínimo para o produto commodity depende de fatores como custo de produção e preço do mercado. A Índia foi cobrada também em relação ao preço mínimo para o açúcar produzido a partir de cana no Estado de Uttar Pradesh. O país afirmou que o objetivo é garantir a sobrevivência de produtores em regiões pobres.

Fonte: Portal do Agronegócios


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