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Incerteza com oferta do RS eleva preço do trigo

O plantio de trigo no Rio Grande do Sul começaria no fim deste mês ou início de junho, mas as inundações que ocorreram no Estado nas últimas semanas devem reduzir a janela ideal de cultivo. Com isso, o mercado já especula com os preços do cereal. O valor de referência do trigo que sai da Argentina rumo ao porto de Rio Grande subiu 30% em pouco mais de 20 dias, para R$ 290 a tonelada.


Como consequência, os custos dos moinhos têm crescido, e o consumidor já pode esperar para junho um aumento dos preços das farinhas. “A matéria-prima é 70% do custo de um moinho. Como todos estavam com estoques curtos, vão ter que comprar mais trigo e repassar ao mercado”, afirmou Christian Saigh, presidente do Sindicato da Indústria de Trigo de São Paulo (Sindustrigo- SP), membro da diretoria Associação Brasileira da Industria de Trigo e Derivados (Abitrigo) e presidente do moinho Santa Clara.


Segundo ele, os moinhos estão com estoque médio para 30 dias porque até recentemente não havia sinais de problemas de abastecimento. Entretanto, nas duas últimas semanas, além dos problemas no Rio Grande do Sul, secas castigam as lavouras nos Estados Unidos, na Europa e na Rússia. Em alguns casos, há possibilidade de reversão das perdas.


A consultoria russa SovEcon reduziu em 4 milhões de toneladas sua estimativa para a colheita na Rússia em 2024/25, para 85,7 milhões de toneladas. No ciclo passado, o maior produtor mundial colheu 91,5 milhões de toneladas.


Apesar de o Brasil comprar pouco trigo da Rússia, os problemas por lá acabam afetando os preços de referência na bolsa de Chicago e, portanto, também os da Argentina, de onde o Brasil compra 80% do que importa. “É muito provável que este ano o Brasil tenha que comprar entre 5,5 milhões e 6 milhões de toneladas, ou talvez um pouco mais se perder parte dessa área que ainda está sob as águas”, disse Gustavo López, diretor da consultoria Agritrend, ao jornal argentino “La Nacion” na última sexta-feira. Para ele, agora é a “oportunidade” da Argentina.


Importação


O analista lembrou que o sul do Rio Grande do Sul é responsável pelo trigo de melhor qualidade. Se essa produção não for colhida, observou ele, é provável que os moinhos tenham que adquirir a diferença da Argentina. No ano passado, o Brasil importou 6,6 milhões de toneladas.


Segundo estimativa da Bolsa de Cereais de Buenos Aires, em 2024, a área de plantio de trigo na Argentina vai crescer 5% em relação ao ano passado, para 6,2 milhões de hectares. A produção deverá aumentar 20%, para 18,1 milhões de toneladas. A venda futura do cereal já está aberta no país.


Incertezas


Ainda que cenário no Rio Grande do Sul seja problemático, a situação da oferta no Brasil continua incerta. Antes da tragédia, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) previa crescimento de 12,3% da produção nacional, para 9 milhões de toneladas. O Rio Grande do Sul responderia por 4,2 milhões de toneladas, ou 44,5% a mais do que no ciclo passado, quando houve seca no Estado. Agora, é preciso avaliar como ficará o solo quando o nível das águas baixar.


“Teremos um quadro mais preciso no fim de junho. As regiões em que o plantio ocorre mais cedo ainda estão com solos encharcados, e algumas nem conseguiram tirar toda a soja que estava nos campos. Mas precisamos ver se quem planta mais tarde já tem as sementes e se dará continuidade ao cultivo neste ano”, afirmou Hamilton Jardim, presidente da Comissão do Trigo da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul).


Para ele, pode ser que a área de plantio não chegue a 1 milhão de hectares no Estado. A previsão inicial era de 1,2 milhão de hectares, e no ciclo passado a área foi de 1,5 milhão de hectares.


“Já prevíamos redução de área porque os produtores estão menos capitalizados com a soja e porque o preço do trigo havia caído. Agora, dependerá exclusivamente do solo e da capitalização de cada produtor”, diz Jardim. “O plantio deverá começar com um certo atraso nos pontos mais quentes do Estado (Alto Uruguai e região das Missões), que também são as responsáveis pela maior parte do maior plantio da cultura”.


Fonte: Globo Rural


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