Os preços externos do trigo apresentaram leve alta durante o mês de julho. A média das cotações do sétimo mês do ano fechou 1,3% acima da média de junho, a USD 6,73/bu, embora na 2ª quinzena de julho as cotações tenham rompido a marca dos USD 7/bu. A volatilidade nesse último mês se deu em função da interrupção do acordo do Mar Negro, que colocou em xeque a disponibilidade da região, que é responsável por 30% das exportações globais.
Apesar desses acontecimentos, as cotações cederam com a diminuição das preocupações frente a possibilidade da oferta do cereal da região ser direcionada por outros modais logísticos além do Mar Negro. Além disso, a melhora das condições climáticas nas lavouras de trigo americanas também ajudaram na redução dos preços.
No mercado interno, as cotações apresentaram movimentos distintos durante julho. No Paraná, a alta foi de 4,7%, para R$ 1.302/t , frente ao início de julho. No Rio Grande do Sul, o movimento das cotações foi o contrário, os preços cederam 7,8% no mesmo período, encerrando a 2ªsemana de agosto em R$ 1.300/t. A baixa disponibilidade do cereal de qualidade no estado paranaense deu suporte aos preço. Enquanto isso, as boas condições da lavoura em ambos estados fizeram com que os moinhos não estivessem muito presentes no mercado, o que diminuiu a liquidez e puxou os preços para baixo no Rio Grande do Sul.
Com o mercado pouco dinâmico, à beira da próxima colheita, o fluxo de embarques foi lento. O acumulado de importações entre jan-jul desse ano somou 2,5 MM de t, queda de 32,5% frente ao mesmo período do ano passado e com preços em USD praticamente semelhantes aos praticados no ano anterior (USD 334/t). Para as exportações, o cenário é semelhante, houve queda de 17% do volume embarcado, somando 2,05 MM de t, contudo com preços (USD 318/t) 6% acima dos praticados no mesmo período do ano passado.
Balanço global equilibrado sugere pouco espaço para altas de preço
Vemos pouco espaço para aumento dos preços globais de trigo, mesmo com a redução do fluxo no Mar Negro. Apesar das rotas alternativas de escoamento dos grãos ucranianos tornarem o fluxo mais lento e, consequentemente, reduzirem a disponibilidade global do cereal, os preços parecem ter pouco espaço para descolarem dos fundamentos de oferta e demanda equilibrados, visto que o mercado já contabilizou a redução desse fluxo.
A Rússia tem uma ampla safra a ser escoada, o que faz com que haja uma concentração de oferta no país dado que o andamento desse fluxo de embarcações está lento. Esse quadro pode continuar pressionando os preços do cereal russo, principalmente em rodadas de leilões dos importadores, e sob o efeito em cadeia, as cotações globais também cedem. Mas discursos e efeitos de guerra podem reverberar em maior volatilidade nas bolsas e gerar oportunidades.
A safra americana caminhando pra o fim. Com o final da colheita do trigo de inverno nos EUA sem grandes impactos em relação ao clima, os preços em Chicago podem ficar ainda mais pressionados. No Brasil, o clima ainda é favorável e as janelas de geadas estão diminuindo conforme o andamento da safra. Com isso, o cenário para a indústria é positivo e, até o momento, com boa qualidade do cereal. Nesse quadro de custo do carrego do cereal elevado e de balanço mais folgado, os moinhos devem continuar fazendo aquisições “da mão para boca”. Com isso, a liquidez deve continuar limitada, pressionando, consequentemente, as cotações do trigo até que algum fato novo mude esse ambiente de disponibilidade maior.
Fonte: O Presente Rural