Pesquisa conduzida pela Embrapa Trigo (RS) e a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) mostrou que o trigo é capaz de sequestrar mais carbono do que emite para a atmosfera. Em medição controlada na cidade gaúcha de Carazinho, os cientistas observaram que durante o ciclo produtivo, o trigo absorveu um total de 7.540 kg de dióxido de carbono (CO2) por hectare da atmosfera, o que neutralizou a emissão de gás durante o pousio (sem plantação) e gerou uma oferta líquida de 1.850 kg/há.
A pesquisa foi feita por meio de uma torre de fluxo, em uma lavoura de grãos, com produção soja/trigo. Esse equipamento é utilizado pela UFSM para avaliar a emissão de gases de efeito estufa (GEE) desde a década de 1990. A medição mostrou que o trigo absorveu 5,31 gramas (g) de CO2 por metro quadrado (m²) ao dia; a soja, 0,02 g (ou seja, praticamente zero). O pousio após trigo emitiu 3 g e o pousio de soja, 3,29 g.
Os resultados da pesquisa apontaram ainda os impactos negativos do pousio no sistema de produção de grãos em relação à emissão de CO2. Em apenas 30 dias, foi capaz de emitir 27% de todo o carbono que o trigo e a soja acumularam em 11 meses de cultivo.
“É possível observar que o pousio no sistema de produção emitiu CO2, principalmente após a colheita do trigo, quando o calor acelera a decomposição dos restos culturais. No experimento, foram apenas 15 dias de pousio na primavera, com a emissão de 11,5 gramas de CO2 por metro quadrado por dia, um valor muito alto que precisa ser sanado no sistema”, avalia Genei Dalmago, pesquisador da Embrapa.
Alternativas de controle
Segundo ele, o cultivo de inverno ajuda a equilibrar o sistema, já que a soja absorve praticamente o mesmo valor de CO2 que emite, enquanto o trigo retira CO2 da atmosfera. O pesquisador alerta, porém, que já existem alternativas para reduzir ou eliminar o pousio entre as culturas no outono, como plantas de cobertura, plantas para produção de grãos ou, ainda, para a produção de forragens.
O também pesquisador da Embrapa Jorge Alberto de Gouvêa complementa destacando que o projeto está em busca de parcerias para ampliar a infraestrutura de avaliação e monitoramento, especialmente de novas torres de medição, que poderão ser instaladas em diferentes ambientes de produção de grãos da Região Sul.
De acordo com a professora Débora Roberti, do departamento de Física da UFSM, apesar do equipamento apresentar alto custo para aquisição (que pode chegar a US$ 180 mil), ele permite uma resposta rápida sobre os fluxos de gases no sistema, gerando uma sólida base de dados em apenas um ano, enquanto outras técnicas de campo demandam longos períodos de tempo para uma resposta segura em relação ao balanço de carbono no ambiente.
Carbono
O CO2 é indispensável para as plantas realizarem a fotossíntese, processo que promove o crescimento da biomassa e a formação de frutos ou grãos. Na fotossíntese, a planta absorve o carbono e libera o oxigênio para a atmosfera. Contudo, durante o desenvolvimento, as plantas também liberam carbono, principalmente no período noturno, quando as plantas respiram mais e não há luz para fazer a fotossíntese.
Além disso, há o processo de decomposição dos resíduos agrícolas, que embora dependente de diversos fatores (ambientais, de solo, de manejo e da composição), é responsável por quantidade significativa de CO2 emitido para a atmosfera. “A emissão e a retenção de CO2 pelas plantas são muito variáveis, dependendo das condições de ambiente e da atividade agrícola, mas o manejo do CO2 é fator primordial para a produção de alimentos”, diz o Gouvêa.
Na atmosfera, o dióxido de carbono faz parte, junto com o metano e o óxido nitroso, dos gases que causam o efeito estufa, uma barreira que impede o resfriamento do planeta. No Brasil, dizem os pesquisadores, as principais fontes de emissão de gases de efeito estufa são a agropecuária (69%) e o setor de transportes (11%), atividades que respondem por 80% das emissões de CO2 do país. Além disso, as mudanças no uso da terra (desmatamentos e queimadas) afetam os reservatórios naturais de carbono, contribuindo para a elevação das emissões e para o aumento do efeito estufa.
Fonte: Globo Rural