A safra brasileira de trigo já está
terminando. No Paraná, o maior produtor do cereal no país, a colheita já foi
encerrada e a produção chegou a 3,2 milhões de toneladas, 1% a mais que no ano
passado, conforme estatísticas do Departamento de Economia Rural (Deral/PR). Já
em São Paulo, o clima atrapalhou, e a safra de trigo deve ser de 250 mil
toneladas. Em 2020, foi de 310 mil toneladas, o que dá uma queda de 19%.
Ainda assim, o Brasil, neste ano, deve colher
a sua maior safra de trigo, projetada em 7,9 milhões de toneladas, incrementada
por produções no Cerrado e no Ceará. No ano passado, foi de 6,2 milhões de
toneladas (alta de 27%).
Mas, para atender a demanda interna por trigo,
em torno de 12 milhões de toneladas, conforme informações da Associação
Brasileira das Indústrias de Trigo (Abitrigo), o país precisa importar o cereal
da Argentina, Canadá e Estados Unidos, em torno de 5 milhões de toneladas. E
essa dependência do trigo vindo de fora pode prejudicar os preços no ano que
vem.
Preços lá fora sobem quase 36%
No mercado internacional, o preço do trigo
disparou, já que grandes produtores como o Canadá vão ter uma safra menor,
devido a problemas climáticos.
Um relatório da consultoria Radar Agro, do
Itaú, apontou que as cotações do trigo não são tão altas desde 2012. "O
balanço global de trigo para a safra 2021/2022, projetado no início da safra apontava
para um cenário confortável, mas passou a ser um dos mais apertados da
década", afirmaram os consultores da Radar. E esse aperto foi justificado
pelas intempéries climáticas que atingiram as lavouras do Hemisfério Norte.
Agora, com a projeção de quebra dessas
safras, a demanda mundial pelo cereal crescendo (além do consumo da população,
as fábricas de ração estão utilizando o trigo para substituir o milho nos seus
produtos), a alta nos preços dos insumos (fertilizantes e defensivos), e a
perspectiva de que essa situação levará a uma diminuição nos estoques, as
cotações já têm valorização em torno de 36%.
Por
isso, o pãozinho e a farinha, em 2022, podem ficar mais caros. "As
indústrias não devem passar todo o reajuste aos consumidores, porque eles já
estão apertados, mas um pequeno repasse no preço da farinha deve ocorrer",
disse Rubens Fonseca, presidente da Abitrigo.
Segundo ele, essa situação de dependência dos
preços preços do exterior só será revertida quando o país reduzir a
vulnerabilidade na importação.
O levantamento da Radar apontou que, desde
julho, o primeiro contrato realizado na Bolsa de Valores de Chicago (CBOT),
saiu de US$ 6,1 por bushel (o bushel do trigo equivale a 27,216 quilos) para
US$ 8,25 por bushel atualmente, uma alta de 36% no período. Já os contratos de
2023 apresentam valorização ao redor de 20%.
Conforme os consultores do Itaú, os preços
podem subir mais porque já circula no mercado, informações de que a Rússia quer
aumentar as taxas de exportação do cereal em seus portos.
"O Brasil, como tomador de preços (a
produção brasileira de trigo não influencia nas cotações internacionais) e com
a necessidade de importar quase metade do consumo doméstico, sente o impacto
dos preços internacionais e do câmbio local enfraquecido", apontou.
"Mesmo com essa produção recorde na safra corrente, o produtor
capitalizado e com capacidade de armazenamento não teve necessidade de ofertar
grandes volumes do cereal ao mercado, o que poderia gerar uma pressão nos preços".
Ainda de acordo com a Radar, a indústria, que
sazonalmente aproveita o momento da colheita para recompor estoques, se vê em
um ambiente desafiador de aquisição de matéria-prima. "Se, por um lado o
produtor restringe a oferta para tentar controlar os preços, por outro o
consumidor segue fragilizado, com o seu poder de compra diminuído pelo momento
econômico atual", informou o boletim mensal da Radar Agro.
Safra argentina pode ser recorde, mas preço
se mantém alto
Os produtores da Argentina já colheram por
volta de 40% da área cultivada com trigo e a produção deve somar 19,9 milhões
de toneladas, segundo informações da Bolsa de Cereales. Essa pode ser a melhor
safra do país. Em 2020, foram 16,8 milhões (alta de 18,5%).
"Ainda que seja recorde, os compradores
globais estão ávidos pelo cereal e qualquer disponibilidade será bem-vinda, por
isso, os preços nos principais portos exportadores têm movimentos similares ao
das bolsas ao redor do mundo", informaram os consultores da Radar Agro.
As cotações futuras do cereal a ser entregue em 2022 já estão cotadas acima de US$ 320 por tonelada (FOB), segundo o Ministério da Agricultura Argentino, alta de 24,4% quando comparado aos preços praticados no início de julho.
Fonte: UOL