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Qual é o futuro do trigo no Brasil?

A escassez de alimentos no mundo coloca o Brasil como potencial candidato para suprir o aumento na demanda com tecnologia e sustentabilidade ambiental. No trigo, o cultivo está orientado para este propósito. Esta é a mensagem apresentada no Fórum Nacional do Trigo e na 15ª Reunião da Comissão Brasileira de Pesquisa de Trigo e Triticale, eventos que acontecem no Centro de Eventos Complexo Brasil 21, em Brasília, DF, entre os dias 28 a 30 de junho.


Na década de 1970, a produtividade de trigo no Brasil era de 600 kg/ha (quilos por hectare). Com a criação da Embrapa nos anos de 1974, foram iniciados os trabalhos para o melhoramento do trigo, que rapidamente passaram a contar também com outras empresas de pesquisa atuando no mercado. Os resultados estão nas lavouras brasileiras: hoje a média de produtividade ultrapassa 3000 kg/ha, ou seja, o rendimento do trigo cresceu cinco vezes a produção na mesma área. Desde 2021, o Brasil ocupa a posição de recordista mundial em produtividade/dia com 80,9 kg/ha/dia.


De acordo com Júlio Albrecht, pesquisador da Embrapa Cerrados, a evolução da cultura do trigo se deve ao trabalho de pesquisa com o resultado do desenvolvimento de cultivares com ampla adaptação, estabilidade no rendimento de grãos e resistência a doenças. Para o pesquisador, a média de produtividade das lavouras hoje poderia ser ainda maior, contudo a preocupação é com a sustentabilidade, tanto econômica, quanto ambiental.


“A pesquisa trabalha agora em busca da máxima eficiência nas lavouras, produzindo alimentos de forma mais rápida e barata. Desenvolvemos cultivares de trigo com ciclo cada vez mais precoce, isto é, o período entre a semeadura e a colheita fica mais curto. A genética também busca maior tolerância a pragas e doenças, que impacta no menor uso de defensivos, e a estresses ambientais, como déficit hídrico e excesso de chuva. Cultivares com maior teor de vitaminas ou maior eficiência no uso de fertilizantes também são alvo da pesquisa. Toda essa tecnologia embutida nas cultivares de trigo têm resultado em melhor retorno financeiro ao produtor e maior oferta de alimentos ao consumidor”, diz ele.


Jorge Lemainski, chefe-geral da Embrapa Trigo, lembra que a produção de trigo no Brasil cresceu 80% entre 2017 e 2021, enquanto a área cresceu 43%. “Isto mostra a eficiência da agricultura brasileira que consegue produzir cada vez melhor sem precisar abrir novas áreas”, destaca Lemainski. Ele lembra, ainda, a evolução da qualidade do trigo brasileiro: “Produzimos trigos indicados para diversos usos, tanto para a alimentação humana, quando para a alimentação animal. Com as cultivares que estão no mercado, conseguimos atender a indústria de pães, massas e biscoitos; a indústria de carnes, leite e ovos; a indústria de biocombustíveis; e o mercado internacional. Isso mostra que nosso trigo tem qualidade, reconhecida dentro e fora do País”.


Mesmo em anos com frustrações climáticas, como a queda do PH (peso do hectolitro) em anos de chuva na época de colheita na Região Sul, os grãos de trigo podem ser aproveitados, tanto na alimentação animal, como na produção de etanol. Para o Presidente da BSBios, Erasmo Battistella, o Brasil precisa assumir uma posição de destaque de sustentabilidade no mundo e ver o cenário de mudanças climáticas como uma oportunidade: “Novas tecnologias exigem novos conhecimentos, recursos e investimentos visando o uso consciente dos recursos naturais a longo prazo”, declara, lembrando que “sempre que a gente fala de transição energética e descarbonização, nós não podemos olhar somente para o bolso, mas primeiramente para as pessoas. Esse é o futuro do Brasil, abastecer o mundo sem perder o equilíbrio ambiental”.


Potencial exportador mundial


O Brasil é o 8º maior importador de trigo do mundo. Em 2021, foram importadas 6,7 milhões de toneladas. O consumo brasileiro é de 12,7 milhões de toneladas, com previsão de chegar a 14 milhões toneladas nos próximos anos. Em 2022, a estimativa de produção é chegar a 8 milhões de toneladas de trigo, volume suficiente para atender 62% da demanda nacional. Por questões de logística e mercado, o Rio Grande do Sul exportou nesse último ano, 2,6 milhões de toneladas para 14 países. Somente nos primeiros quatro meses de 2022 (jan a abr), foram exportados 2,17 milhões toneladas.


Apesar de não garantir a autossuficiência, a produção brasileira de trigo está crescendo rapidamente. Em 2015, o Brasil colheu 5 milhões de toneladas. Em 2020, a produção chegou a 6,2 milhões toneladas. Em 2021, atingiu 7,6 milhões toneladas. A previsão para 2022 é de 8,1 milhões toneladas. Em dez anos, caso a produção de trigo cresça 10% ao ano, passaríamos de 8 milhões de toneladas em 2022 para 20 milhões de toneladas em 2031, colocando o Brasil como potencial grande exportador do cereal no mercado internacional.


Fonte: Agrolink


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