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Transformaram o pão em vilão

O texto abaixo veio de longe, de Belém do Pará. É uma contribuição do professor universitário e médico imunologista Bruno Paes Barreto. Com talento, muita massa e um leve tempero de ironia, ele desmitifica o modismo de intolerância ao glúten. Trataremos desse assunto também em uma de nossas próximas receitas. Por ora, fique com esse texto que esclarece aspectos importantes para a sua saúde.      
 

Coitado do pãozinho: por enquanto, a culpa é do glúten. Até a próxima temporada dos modismos, onde, quem sabe, o coitado do milho pode ser catapultado à condição de inimigo número um da saúde pública!

Desde a Era Neolítica, o homem ingere grãos com glúten em sua composição, mas agora, depois de 10 mil anos, o nosso sistema imunológico resolveu implicar com esta proteína? Como imunologista, sei que são possíveis reações imunologicamente mediadas para frações proteicas do glúten, como a gliadina e a glutenina. E que, como todo processo imunológico, pode sofrer variação em sua prevalência durante o tempo. A Doença Celíaca, a sensibilidade ao glúten (não-celíaco) e a alergia ao trigo são condições que parecem ter tido aumento em sua prevalência nas últimas décadas, no entanto, ainda bem abaixo do que se preconiza pelo modismo atual.

A Doença Celíaca (DC) afeta aproximadamente 1% da população em geral, com início dos sintomas geralmente na infância, embora a perda da tolerância para o glúten possa acontecer, em menor escala, em adultos. Os sintomas clássicos são diarréia crônica, dor abdominal e, nas crianças, comprometimento importante do ganho ponderal.

A Alergia ao Trigo (AT) é condição que tem prevalência variável na população (0,5 a 9%), mas também com predomínio do início dos sintomas na infância, que podem ser cutâneos (dermatite e urticária), respiratórios (broncoespasmo) e gastrointestinais (náusea, diarréia e desconforto abdominal). Geralmente, é quadro transitório com aquisição de tolerância até os 10-12 anos para 70% das crianças. Mais uma vez, os adultos têm menor chance de desenvolver alergia clássica ao trigo, quando comparados às crianças.

A sensibilidade ao glúten (não-celíaco) é condição já descrita há mais de 30 anos, na qual se enquadram pessoas que têm reação ao glúten, mas que não preenchem os critérios para DC ou AT. Sua prevalência varia de 3 a 6% da população em geral, porém, esta estimativa fica difícil por conta da ausência de marcadores diagnósticos confiáveis (alterações histopatológicas ou anticorpos antiproteína). Os sintomas acontecem pouco tempo após a ingestão e podem ser gastrointestinais (dor abdominal, distensão, diarréia ou constipação) ou extraintestinais, como urticárias, dores articulares, fadiga, parestesias e depressão. 

Neste último caso, como os sintomas podem ser inespecíficos, muitas pessoas, atualmente, se autodiagnosticam como "intolerantes" ao glúten. E o que é pior: muitas vezes, com a anuência de médicos afeitos a modismos descabidos, que determinam dietas desnecessárias, absurdas e perigosas nutricionalmente.

Acho que está na hora de acabarmos com a história de dieta "glúten-free" e passarmos para o "freedom glúten"!  

Fonte: G1


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