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Trigo brasileiro tem pegada de carbono inferior à mundial, diz estudo

Um estudo inédito da Embrapa revelou que a produção de trigo no Brasil tem uma pegada de carbono inferior à média mundial e pode reduzir ainda mais suas emissões de gases de efeito estufa com o uso de práticas sustentáveis.


Realizado no sudeste do Paraná durante a safra 2023/24, o levantamento analisou 61 propriedades rurais e todo o processo industrial de uma moageira paranaense. O objetivo foi avaliar os impactos ambientais da produção de trigo, do campo à produção da farinha.


De acordo com o estudo, os fertilizantes nitrogenados são os principais responsáveis pelas emissões de carbono na triticultura brasileira. A aplicação de ureia, fertilizante mais utilizado por conta do custo, responde por até 40% das emissões no cultivo do trigo. A substituição desse insumo por nitrato de amônio com calcário (CAN) pode reduzir as emissões em até 4% e também contribuir para a mitigação da acidificação do solo, outro fator de impacto ambiental relevante.


“Quando a ureia não é totalmente absorvida pelas plantas ou é lixiviada como nitrato, ocorrem reações que liberam íons de hidrônio, aumentando a acidez do solo. Em contrapartida, fertilizantes à base de CAN ajudam a neutralizar esse efeito devido ao seu conteúdo de cálcio”, explica a pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente Marília Folegatti.


Além dos fertilizantes, a escolha de cultivares mais produtivos também foi apontada como fator de redução de emissões, ao permitir maior rendimento com menos uso de recursos naturais, como solo e água.


Segundo a pesquisadora da Embrapa Trigo Vanderlise Giongo, no entanto, o principal não é a substituição de um produto por outro, mas sim a possibilidade de diversificar soluções que possam atender o produtor de forma personalizada de acordo com a região produtora e suas especificidades.


No caso do nitrogênio obtido na ureia, ela comenta que há estratégias como plantas que antecedem o cultivo de trigo e que podem reciclar o nitrogênio, soluções para a fixação biológica e até melhoramentos genéticos para que o cereal aproveite melhor os nutrientes disponíveis.


"É tudo multiestratégia, sabe? Você não deposita em uma única solução. O Brasil tem um portfólio de soluções tecnológicas. O Brasil investe muito em tecnologia, de processo de produto. Desde a genética até os manejos integrados. E isso faz com que a nossa agricultura já seja muito eficiente. Então, assim, o sistema que nós temos hoje, são muito competitivos em relação à média global", pontua a pesquisadora.


"O Brasil vem avançando no melhoramento genético, nas tolerâncias de estresse hídrico e térmico, nas resistências a doenças. Isso faz com que tu utilize menos insumos, ou seja mais eficiente na utilização deles", defende. "Então nós já temos algo muito bom, e aplicando tecnologias já disponíveis podemos ter uma redução que chega a 38%", diz Vanderlise.


Impacto ambiental

O levantamento mostrou que a pegada de carbono da produção brasileira é mais baixa que a de países como Índia, com 0,62 kg por CO₂ equivalente por quilo de trigo produzido, a Itália, com 0,58 kg e China, com 0,55 kg. A pesquisa, publicada no periódico científico Journal of Cleaner Production, estimou em 0,5 kg de CO₂ equivalente a emissão por quilo de trigo produzido no Brasil — índice abaixo da média global, que é de 0,59 kg.


Segundo Vanderlise, as áreas analisadas no Paraná, principal Estado produtor de trigo no país, já são agricultáveis há mais de trinta anos, não apresentando impactos de desmatamento na pegada de carbono, o que contribui para a avaliação do cereal brasileiro. Além disso, a região adota um sistema produtivo direto na palha e rotação de culturas.


Além da pegada de carbono, o estudo avaliou outras categorias ambientais, como uso da água, acidificação terrestre, eutrofização e toxicidade. Embora a produção brasileira tenha apresentado impactos superiores em aspectos como acidificação do solo e ecotoxicidade terrestre, devido ao uso de fertilizantes e pesticidas, também mostrou vantagens — como o baixo consumo hídrico no cultivo de trigo de sequeiro, comum nas regiões estudadas.


A segmentação por tamanho de propriedade mostrou diferenças na pegada de carbono: 0,58 kg CO₂eq nas pequenas propriedades e 0,47 kg nas grandes. Segundo a pesquisadora, isso se deve ao volume da produtividade, técnicas de manejo, mas também ao acesso a maquinários mais modernos, uma vez que a pegada de carbono leva em consideração, até mesmo, o combustível usado para transportes na cadeia produtiva.


Do campo à farinha

O estudo também comparou os impactos da produção de farinha de trigo no Brasil com indicadores internacionais. A pegada de carbono variou de 0,67 a 0,80 kg CO₂ equivalente por quilo de farinha, dependendo do perfil das propriedades de origem dos grãos — patamar inferior aos registrados na Espanha e na Itália, com 0,89 e 0,95 kg CO₂ equivalente, respectivamente.


Segundo Marcelo Vosnika, diretor da Moageira Irati, parceira do estudo, o uso de energia solar e a gestão eficiente da produção podem ampliar a competitividade da farinha brasileira. “Estamos trabalhando para mostrar ao mundo como nosso modelo de produção de trigo está associado à uma agricultura resiliente e de baixo carbono”, destaca o empresário.


Com a finalização da primeira etapa, que avaliou o trigo em campo, os pesquisadores pretendem expandir a análise para outras cadeias produtivas, e também para aquelas que utilizam o trigo como insumo. “Nosso objetivo é gerar informações que ajudem a orientar modelos mais sustentáveis de produção”, afirma Vanderlise.


Fonte: Globo Rural


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