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Trigo entre extremos: clima favorável derruba preços globais, mas incertezas sustentam mercado brasileiro

O mercado global de trigo atravessa um momento de equilíbrio instável. De um lado, o clima amplamente favorável nas principais regiões produtoras tem impulsionado o avanço das colheitas e aumentado a oferta mundial; de outro, incertezas sobre estoques e movimentações de grandes exportadores mantêm o setor em compasso de espera.


Após anos marcados por eventos climáticos adversos, como o La Niña prolongado, a recuperação das condições meteorológicas tem sido decisiva para o desempenho das lavouras. No Hemisfério Sul, países como Austrália, Argentina, África do Sul e Brasil registram safras acima da média, beneficiadas por chuvas oportunas e ausência de geadas significativas.


Na Austrália, estados como Nova Gales do Sul e Victoria devem colher volumes próximos do ideal, enquanto a Argentina se recupera da seca prolongada, apesar do risco pontual de geadas tardias em Buenos Aires e La Pampa. Já na Europa e no Canadá, houve melhora expressiva nas condições de plantio durante o segundo semestre, o que deve garantir bom rendimento para o trigo de inverno.


França e países da região do Mar Negro — como Ucrânia e sul da Rússia — também foram favorecidos por precipitações recentes, que aliviaram preocupações com a seca. Na Índia, o fim das monções trouxe umidade adequada ao solo, garantindo perspectivas positivas para a próxima safra. Apenas a China enfrenta alguns desafios localizados, devido ao excesso de chuvas no plantio, mas o clima estabilizado reduz parte dos riscos.


Nos Estados Unidos, o outono apresenta condições adequadas, e a influência limitada do fenômeno La Niña deve permitir o bom desenvolvimento das lavouras. Diante desse quadro de ampla oferta e demanda enfraquecida, analistas projetam continuidade da pressão baixista sobre os preços internacionais pelo menos até a primavera de 2026.


Consultorias alertam para volatilidade e oportunidades em Chicago

Apesar do cenário global de queda, consultorias de mercado destacam que o trigo segue operando dentro de uma faixa estreita de suporte e resistência, reflexo da expectativa por novos dados sobre a produção mundial. O mercado aguarda o próximo relatório mensal do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), além das atualizações sobre os volumes colhidos na Argentina, Austrália e Rússia — países que devem definir o rumo das cotações nos próximos meses.


Mesmo com a tendência de baixa, os preços médios ainda se mantêm acima dos níveis registrados no início do mês. Com o encerramento da colheita no Hemisfério Norte, o abastecimento global passa a depender das lavouras do Hemisfério Sul, cuja conclusão está prevista para dezembro. Após esse período, a oferta tende a se retrair até maio de 2026, o que pode abrir espaço para reajustes positivos, especialmente na Bolsa de Chicago (CBOT), onde analistas consideram o momento favorável para posicionar ordens de compra de longo prazo.


No Brasil, perdas na safra limitam quedas e sustentam preços

No cenário doméstico, o clima tem sido determinante para o comportamento dos preços. As recentes chuvas intensas, acompanhadas por granizo e ventos fortes, provocaram acamamento e danos nas lavouras, agravando uma safra já reduzida. Esse fator tem limitado o potencial de queda das cotações, que devem permanecer estáveis até o início de 2026.


De acordo com analistas, a oferta ainda elevada mantém os preços contidos no curto prazo, mas há expectativa de valorização gradual a partir de janeiro, quando os moinhos estiverem com estoques ajustados. Para produtores que precisam vender parte da colheita para cobrir custos, especialistas recomendam reservar uma pequena fração da receita para operações em contratos futuros em Chicago, buscando compensar possíveis perdas no mercado físico.


Fonte: Portal do Agronegócio


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