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Trigo: safra 2019 registra a maior população de pulgões da década

De acordo com dados da Rede de Monitoramento de Pragas e Cerais de Inverno, que reúne diversas instituições de pesquisa em trigo no Brasil, a safra 2019 de trigo foi a que mais registrou a população de pulgões nos últimos 10 anos.  Temperaturas acima da média e tempo seco favoreceram o aumento do pulgão, que é um transmissor de vírus nos cereais de inverno, como trigo, aveia e cevada.


O pesquisador da Embrapa Trigo, entidade que faz parte desta rede, Douglas Lau, explica que o pulgão se alimenta do sistema vascular da planta e que, por consequência, afeta a formação da planta como um todo. Quanto mais cedo ocorrer a infecção, mais partes da planta são afetadas. “Nas fases iniciais, pode se ter redução do sistema radicular da planta, redução da estatura da planta, a degeneração do sistema vascular, na fase final pode se ter grãos que não se formam de forma adequada, eles são normalmente de tamanho menor e enrugados. Afeta significativamente a produtividade como a qualidade do grão que vai ser formado”, diz.


Para se evitar os pulgões, Lau argumenta que existem diversas ferramentas. A primeira utilizada na história foi o controle biológico. “Nos anos 1970 eram muito elevadas às populações e optou-se por voltas as regiões de origem dos pulgões para se buscar os inimigos naturais, para ver se o sistema voltava a ter equilíbrio”, conta o pesquisador. A tentativa de trazer vespinhas, explica Douglas, deu certo e pode ser considerado o maior case de sucesso no mundo na redução dessas populações.


Elas depositaram ovos nos pulgões e desses ovos larvas eram formadas. As larvas comiam o pulgão e o matavam.  Na média das cultivares de trigo que existem atualmente no mercado, a perda de  potencial produtivo pode chegar a 60%. Em outras menos tolerantes, Douglas menciona uma perda que beira os 80%.  “Há, ainda, para se evitar, o manejo químico. Se tem um ano favorável e um material que tem potencial de perda muito grande, existem duas opções, o tratamento de sementes e a aplicação de inseticidas em parte área”, pontua.


No tratamento de sementes, são utilizados fungicidas sistêmicos, que vão entrar na planta e que quando o pulgão se alimentar da planta, vai morrer. “Hoje se recomenda que quando 10% das plantas de uma lavoura têm pulgões se faça a aplicação de inseticida em parte área e isso tem que ser monitorado. O que temos procurado é monitoras as populações de pulgões para saber em que patamares elas estão e que quando elas atingem determinados patamares o adequado para fazer o manejo com inseticida”.


"O que temos procurado é monitoras as populações de pulgões para saber em que patamares elas estão e que quando elas atingem determinados patamares o adequado para fazer o manejo com inseticida"


 QUE FAZER DEPOIS QUE APARECEU O PULGÃO?

“Pouco a se fazer”, responde Lau. “O ideal é monitorar a lavoura e já nos primeiros sinais fazer o manejo para proteger. Depois que se tem um número ‘x’ de plantas infectadas, não se tem muito que fazer”.  No caso do vírus, salienta, a infecção é sistêmica, ou seja, em questão de horas vai produzir milhares de descendentes que vão infectar outras plantas. “Não temos nenhum ‘vericida’ para tratar isso, temos o fungicida que é para o fungo. Aquela planta infectada vai depender dos seus próprios mecanismos de defesa para a resistência. Se é uma planta muito suscetível ela vai apresentar os sintomas e na frente se verá as perdas de produtividade”, alerta.


DIAGNÓSTICO

Até chegar ao diagnóstico correto de pulgão, erros e confusões podem aparecer. Douglas ressalta que o sintoma de amarelecimento da planta pode ser confundido com uma deficiência nutricional. O tamanho reduzido da espiga com o efeito de geada. Não identificar no início é fator de preocupação, já que mais plantas da lavoura poderão ter seu potencial produtivo colocado em cheque.


"Não temos nenhum ‘vericida’ para tratar isso, temos o fungicida que é para o fungo. Aquela planta infectada vai depender dos seus próprios mecanismos de defesa para a resistência. Se é uma planta muito suscetível ela vai apresentar os sintomas e na frente se verá as perdas de produtividade"


MAIOR INCIDÊNCIA

O monitoramento foi retomado em 2008 e desde então apenas o ano de 2012 havia chamado a atenção. Em 2019, o cenário mudou. “Na região 1 do trigo, que pega Passo Fundo e segue até Vacaria, tivemos vários relatos de populações de pulgões. Já na região 2, para os lados de Santa Rosa, que é uma região mais quente, as populações não foram tão altas.  Nesse ano, a região 1, até em Santa Catarina e Paraná, chamou a atenção pela quantidade de pulgões capturados e pelo momento, elas começaram a aumentar já no início de agosto”.


A ocorrência de pulgões pode ser explicada pela pouca chuva. “Por exemplo, em 2018 a chuva acumulada de junho a setembro em Passo Fundo foi de 734 mm; em 2019 a precipitação acumulada somou apenas 267 mm no mesmo período, bem abaixo da média histórica. O tempo seco, a temperatura média próxima a 14°C, com disponibilidade de plantas nas lavouras, formou um ambiente muito favorável para a reprodução e dispersão dos insetos”.


CONSEQUÊNCIAS

Para o pesquisador, ainda não se tem uma noção clara sobre as consequências em longo prazo do pulgão. “A infecção em início de ciclo pode se refletir nas espigas de coloração alterada e alguns materiais ficam com danos que parece que foi causado por outras coisas, como o percevejo. Um sintoma  característico é de uma espiga escurecida. Aqui na região se convencionou a chamar de espiga chocolate, que fica parecendo um chocolate mesmo, em um tom que não é normal e que se nota a presença do vírus e a interação com outros patógenos”, finaliza.


Fonte: Diário da Manhã


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