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Trigo: saiba como o cultivo do cereal está avançando no Cerrado

Cereal do pão segue o rastro da soja e busca ampliar fronteiras de produção no Centro-Oeste do paísPor Igor Castanho

A trilha de expansão traçada pela soja brasileira nas últimas duas décadas começa a ser seguida pelo trigo. Com o cultivo consagrado e concentrado na região Sul, agora o cereal se ampara na pesquisa para conquistar áreas de cultivo no Centro-Oeste brasileiro. Nas últimas cinco safras, a triticultura cresceu 33% em área e 76% em volume de produção na região. O quadro desperta otimismo do setor para investir em inovação, mirando uma expansão ainda maior do plantio nos próximos anos.

O forte crescimento percentual soa inexpressivo se analisarmos os números absolutos. Juntos, os estados de Mato Grosso do Sul, Goiás e Distrito Federal ainda registram uma participação nanica na oferta nacional. Na safra 2016/2017, foram produzidas 122,1 mil toneladas, que equivalem a apenas 2% dos 6,1 milhões de toneladas colhidos no país, conforme dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Entretanto, a análise se transforma pelo viés da produtividade: nenhuma região obtém rendimentos tão elevados quanto os 3,7 mil quilos por hectare colhidos pelo trio. Esse cenário desperta expectativas variadas e promete reconfigurar o mercado tritícola nacional.

Por que o cultivo é vantajoso?

As boas produtividades e os benefícios que o cultivo gera para o solo, como a formação de palhada, geram bons resultados para quem está na vanguarda. É o caso do produtor Alan Cenci, que planta 100 hectares com trigo na Fazenda Baixada do Jardim, situada nas imediações de Brasília (DF).

"Além de ser uma opção rentável, o trigo se encaixa muito bem na rotação de culturas, favorecendo a safra de verão", afirma o produtor. O cultivo de trigo logo após a colheita de verão cria um hiato que evita a ponte verde, fenômeno que ocorre quando pragas e doenças incidentes em uma lavoura seguem presentes na mesma área até o ciclo seguinte.

Em anos com clima favorável, Cenci revela ter colhido mais de 7 mil quilos por hectare, com um custo médio de R$ 3 mil por hectare. A combinação de alta produtividade e gasto elevado está relacionada ao fato de que todo o plantio é feito em áreas irrigadas.

Benefícios

Isso reduz a competitividade em termos financeiros, mas não inviabiliza o negócio. "Muitas vezes o ganho acaba sendo menor do que o plantio de feijão ou milho, mas o benefício agronômico compensa", compara. Segundo ele, a opção pelo sistema é a flexibilidade no calendário.

Enquanto o plantio de sequeiro ocorre logo após a colheita da safra de verão, entre fevereiro e março, as áreas com pivô são semeadas mais tarde, entre os meses de abril e maio. "Nós sempre falamos para o produtor plantar trigo tendo em vista colher mais soja ou feijão na safra de verão. O ideal é enxergar o plantio como parte de um sistema, pois aí o ganho total é muito maior", afirma o agrônomo da Cooperativa Agropecuária do Distrito Federal (Coopa-DF), Cláudio Malinski.

A Coopa-DF é uma das principais incentivadoras do cultivo de trigo na região, por meio de apoio técnico e fomento à produção. Dentre as ferramentas de estímulo está um moinho próprio, que absorve praticamente toda a produção dos 4 mil hectares cultivados pelos associados.

Boa qualidade

Em paralelo aos saltos no rendimento, a produção no Centro-Oeste também consegue satisfazer às exigências da indústria, oferecendo os trigos tipo 1 e 2, que são considerados de melhor qualidade para a panificação e para as fábricas de massas e biscoitos. A classificação leva em conta uma série de critérios diretamente relacionados ao desempenho da produção no campo, como peso e composição do grão. Atender esses pré-requisitos favorece o produtor na hora da negociação para venda.

A combinação de áreas irrigadas e clima menos sujeito a geadas ou excesso de chuvas representa um trunfo para o trigo do Centro-Oeste, aponta Malinski. Mas isso ainda não garante equilíbrio total nas contas do produtor. "O custo de produção mais baixo faz com que, em alguns casos, o trigo do Sul seja mais rentável, mesmo com uma produtividade inferior. É por isso que precisamos continuar evoluindo", diz o agrônomo.

Fonte: Farming


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