Em
decorrência do clima quente e seco – na contramão do esperado para o período do
ano – as expectativas para a próxima safra paulista de trigo são de retração.
Segundo informações apresentadas na manhã de 20 de junho, durante a reunião da
Câmara Setorial do Trigo de São Paulo, em Capão Bonito (SP), a produção
regional exigirá resiliência do produtor.
De
acordo com o presidente da Câmara, Nelson Montagna, o cenário representa um
quadro claro e direto sobre os próximos meses: “Na última reunião já havíamos
pensado em uma safra menor e ela está se confirmando, ou seja, daqui para
frente o maior problema, tanto para a produção quanto para a indústria, é saber
o que será colhido em termos de quantidade e qualidade do cereal”.
Ao que se refere ao clima, o
ano de 2024 já registrou um aumento de 2,52°C acima da média de 2023 – que
esteve no limite considerado seguro para o plantio. Essa mudança de
temperatura, como frisou o representante da Castrolanda, Júlio Antunes, tem
gerado inúmeras consequências durante o processo produtivo do trigo.
“As chuvas até começaram no
momento certo do início do plantio, no entanto, em contrapartida, as
temperaturas elevadas causaram um considerável déficit hídrico. Essa situação
possibilitou um aumento de Brusone nas folhas, assim como um maior acometimento
por lagartas e o encurtamento de ciclos com baixo perfilhamentos nas lavouras”,
explicou o profissional ao relembrar que a identificação de Brusone nas folhas
é um termômetro de que as condições climáticas podem favorecer um avanço da
doença que, ao chegar na espiga, pode causar danos irreversíveis.
Sendo assim, os principais
desafios para o produtor estão relacionados às baixas perspectivas em
produtividade e qualidade. “O trigo é uma cultura interessante em questão de
rotação e estruturação de solo, mas precisa ser rentável, se não o produtor não
se sente estimulado e entre outras opções de cultivo, ele pode ficar de
escanteio”, destacou o representante da Cooperativa Agrícola de Capão Bonito,
Nélio Uemura.
Produção no Brasil e no
mundo
Ao analisar o atual
posicionamento brasileiro na cadeia global do trigo, o representante da Aliança
Agrícola do Cerrado – Sodrugestvo Brasil, Douglas Araujo, pondera que o produto
brasileiro, devido ao teor proteico, é muito bem-visto pelo demais compradores.
Entre os clientes, constam países como Equador, Venezuela, Tailândia, Vietnã e
Filipinas.
“O quadro de oferta e
demanda do mercado nacional nos indica que o Brasil continuará sendo um forte
importador de trigo, na ordem de 6 a 7 milhões de toneladas, mas também
mostrará um expressivo potencial de exportação, com estimativa de embarque de
1,5 milhão de toneladas na próxima safra, principalmente por meio do Rio Grande
do Sul – mesmo com uma produção menor”, explica Araujo.
Em relação aos principais
mercados de trigo no mundo, o representante da Aliança Global também mostrou
que o ano safra passará por um grande dilema: o consumo tende ser maior que a
produção.
“Nas perspectivas atuais, os
estoques mundiais continuam em queda, com uma maior concentração na China. O
que nos faz pensar como alguns países dependentes de importações, como o
Brasil, irão lidar com a situação de segurança alimentar”, ponderou.
A China, por exemplo,
aprovou a compra do trigo argentino, já a Índia, tem recuperado estoques, mas
os preços domésticos continuam pressionados, com forte intervenção estatal na
comercialização do produto. A Europa tem apresentado uma produção abaixo dos
anos anteriores, cenário atrelado ao alto índice de chuvas na França, o menor
preço global do trigo pela Ucrânia e a entrada da Rússia na lista de sanção, o
que dificulta o câmbio e o uso de instrumentos financeiros. A Romênia, em
contrapartida, tem apresentado preços bem competitivos.
Os Estados Unidos já
colheram 27% do trigo de inverno, com condições elevadas e a produção da
primavera tem apresentado bom desempenho. As vendas do país se mostram
aceleradas e competitivas para a 2024/25. Assim como a Austrália, com potencial
incremento da produção, mediante ao clima positivo, similar ao da Argentina, e
uma expressiva vantagem de vendas para o sudeste asiático por conta da
proximidade geográfica.
Por fim, a Argentina tem
como estimativa de plantio 6,92 milhões de hectares – superfície 25% maior que
no ano anterior, com destaque para o crescimento na chamada região núcleo: as
províncias de Buenos Aires (+18%), Córdoba (+30%) e Santa Fé (+25%).
“O país é o nosso principal
fornecedor de trigo e conta com um plantio com alto em fertilizantes e insumos.
Em condições adequadas de clima, é esperado uma colheita superior a 21 milhões
de toneladas, muito acima as 15 milhões obtidas na última safra”, destaca
Araújo.
A íntegra da reunião está disponível no canal do Youtube do Sindustrigo.