Em um formato inédito, a Abitrigo promoveu, na manhã de 25 de
novembro, o 27ª Congresso Internacional da Indústria do Trigo, que neste ano,
por conta da pandemia, foi online e gratuito.
“Pela primeira vez, a Abitrigo promoveu seu congresso de
maneira virtual, uma experiência nova, em um ano que foi totalmente atípico. A
pandemia afetou a vida de todos: empresas e consumidores. Nós nos reunimos para
fazer um balanço sobre a situação dos mercados internacional e nacional e
debater as expectativas para 2021”, declarou o presidente-executivo da
Abitrigo, Rubens Barbosa, durante a cerimônia de abertura.
Com o tema central “Mudanças Recentes e o Futuro”, o evento
debateu questões relevantes para toda a cadeia do trigo no Brasil e no mundo,
por meio da participação de importantes players do setor.
Convidada para fazer a palestra inaugural do evento, a
economista, pesquisadora do Peterson Institute for International Economics e
professora da SAIS/John Hopkins University Washington, Monica de Bolle apresentou
um panorama do atual cenário geopolítico mundial, abordando as perspectivas econômicas
e sociais, com destaque para os impactos no Brasil.
“O ano de 2020 foi um período muito difícil, mas chega ao fim
de uma forma mais auspiciosa do que esperávamos, com a sinalização de vacinas
com resultados promissores. Entretanto, estamos vivenciando, em alguns países,
sinais claros de uma segunda onda, que também chegará ao Brasil”, destacou.
“Neste momento, o melhor é trabalhar com um cenário de melhora, mas com
cautela. A vacina vai chegar, mas ainda teremos um processo longo e lento pela
frente, pois o Brasil é um país muito grande e com diferentes desafios em cada
uma de suas regiões”, acrescentou.
A dinâmica do mercado
do trigo
O primeiro painel do evento reuniu representantes da cadeia
do trigo para debater a dinâmica do mercado, destacando os desafios do setor.
Trazendo uma visão do cenário internacional do grão, o presidente honorário da
European Flour Millers, Bernard Valluis, afirmou que a demanda mundial do trigo
será atendida, pelo volume estimado de produção, até o ano de 2029.
“A pandemia da Covid-19 não teve um grande efeito a curto
prazo no mercado do trigo. Nossa projeção é que teremos uma produção
suficiente, mesmo com a previsão de crescimento da população mundial”, analisou
Valluis.
O diretor comercial da Coamo Agroindustrial Cooperativa,
Rogério Trannin de Mello, destacou as particularidades do trigo nacional, ressaltando
a competitividade, principalmente pela boa qualidade do cereal. “Temos um trigo
de excelente qualidade no Brasil, mas o maior desafio no aumento do volume de
produção é a concorrência com o milho da segunda safra, que ainda rende maior
lucratividade ao produtor. Aumentar as áreas de trigo ainda é uma escolha do
agricultor, que acaba por optar pela cultura que lhe é mais atraente
financeiramente”, explicou.
Trazendo a visão da indústria moageira, o executivo do
Negócio Trigo da Bunge, Edson Csipai ressaltou que o preço de venda do trigo é
um dos principais pontos de atenção do setor neste ano. “Enfrentamos um desafio
muito grande na indústria moageira brasileira, que viu seus custos aumentarem
60%, mas que ainda não foram repassados ao mercado consumidor. Outro tema
sensível é a questão do trigo transgênico, que enfrenta uma alta rejeição por
parte do consumidor, o que leva os moinhos a não comprar esse produto”.
Ainda no debate sobre o mercado, o presidente da Associação
Nacional dos Usuários de Transporte de Carga – ANUT,
Luiz Henrique Baldez contribuiu com informações sobre a logística no Brasil. “Quando
verificamos que na média o custo brasileiro representa cerca de 26% do produto
e nos países da OCDE apenas 9%, podemos afirmar que temos uma diferença
competitiva ainda muito grande.”, destacou referindo-se aos países que fazem
parte da Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico. “A solução desse problema será a longo prazo
com políticas estaduais e estáveis”.
A gestão na indústria
do trigo
O segundo painel do evento tratou da gestão da indústria do
trigo, com a apresentação de estratégias para que as empresas do setor atinjam
seus objetivos e resultados, com uma visão eficiente dos processos do momento
em que o cereal chega aos moinhos até o consumidor final.
Em um depoimento gravado exclusivamente para o evento, o CEO
Global da JBS, Gilberto Tomazoni, elencou os principais pontos de atenção para
o sucesso de uma empresa, destacando as pessoas como um dos ativos mais
importantes do negócio. “As pessoas são a parte mais importante de qualquer
estratégia”.
O Global Principal Application Scientist, Enzymes DuPont
Health & Bioscience, Eduardo Pimentel Junior enfatizou que um plano de
gestão eficiente é aquele que coloca as pessoas como um ponto de grande importância,
possibilitando que elas se qualifiquem e se atualizem, preparando-as para
inovar. “A indústria moageira é um setor que carrega os selos de artesanal e
tradicional, mas é necessário sair da zona de conforto do tradicional e abrir
espaço para a inovação. Esse processo deve ser marcado por um começo, mas a
companhia precisa entender que inovar deve ser um movimento contínuo”, salientou.
Focado no cenário moageiro nacional, o presidente da J.
Macedo, José Honório Tofoli, destacou a grande diferença entre os moinhos, no
campo financeiro, que se reflete diretamente no mercado de farinha de trigo no
país. “Temos que mudar paradigmas no setor e aceitar que o nosso problema está
na gestão. O mercado está para todos, mas é preciso focar na gestão dos nossos
negócios, traçando metas e objetivos a serem alcançados e parar de continuar
aceitando que temos que vender barato”.
Finalizando as apresentações do painel, a diretora de
Relações Institucionais da Confederação Nacional da Indústria – CNI, Mônica
Messenberg analisou os impactos das ações dos governos na atividade
empresarial. “Temos observado que o Brasil está entre os três níveis piores de
competitividade, ou seja, aspectos como financiamento, tributação, logística e
ambiente de negócios têm contribuído para que tenhamos uma dificuldade maior
para que nossas empresas sejam competitivas, dentro e fora do Brasil. É
necessário reduzir a burocracia e a tributação para que possamos nos tornar
mais competitivos”.
O conteúdo completo do 27º Congresso Internacional da
Indústria do Trigo está disponível no canal da Abitrigo no YouTube.